domingo, 20 de dezembro de 2015

Aos 87 anos, Joaquim Leiteiro foi tropeiro, domador de cavalos selvagens e tem lembranças das boiadas cruzando as ruas de Jataizinho.


Personagem da história de Jataizinho, Joaquim Felisberto Nogueira, o popular “Joaquim Leiteiro” é natural de Campestre, Minas Gerais. Antes de chegar ao Paraná foi morar em São Pedro do Turvo, em São Paulo, onde laborou na pecuária. Á trabalho, veio para Uraí ainda solteiro e conheceu Maria Loyola, hoje com 92 anos. Desta união resultou-se cinco filhos, treze netos e dezesseis bisnetos. “Cheguei em São Pedro do Turvo aos 18 anos e comecei a trabalhar como leiteiro. Também fui tropeiro, onde conduzia mais de 60 cabeças de gado entre São Paulo e Paraná, vindo os comercializar em Uraí e Jataizinho, especificamente na Serra Morena. Éramos três cavaleiros: um conduzia o rebanho pela frente. Os outros vinham atrás. Isto foi nos fins dos anos 40 e início dos anos 50. A viagem durava seis dias, dormíamos ao relento e comíamos a ‘bóia’. Hoje mudou. Os animais são transportados de caminhão”, recorda Joaquim Nogueira. 
                                                                                                                     
Foi numa destas viagens que ele chegou a região e não o deixaram mais voltar, devido o reconhecimento de seu trabalho. Vindo morar na Serra Morena, no Sítio Alto Alegre, Joaquim Nogueira começou a trabalhar com gado e porcos, sendo que seu interesse maior era a atividade de leiteiro, função que exercia desde o retiro a venda de porta em porta. “Comecei com uma vaca e conforme trabalhava aumentava a quantidade de animais. Além do leite, fabriquei e vendi queijo. A princípio as entregas eram a burro e a cavalo, onde colocava dois alforjes, com um galão de cada lado e passava de casa em casa. Com o tempo o transporte era feito em carroças e depois numa caminhonete”, lembra. Vendendo leite em canecas de meio litro ele chegou a ter mais de cem vacas e uma rotina que se iniciava pela manhã com o retiro e que terminava as 11 horas, quando o produto estava nas casas de Jataizinho. “A pessoa ainda dormia e lá estava o leite na sua porta”, recorda.                                                                

Atuando como pecuarista e agricultor, com o passar do tempo ele adquiriu terras em Jataizinho e Campina da Lagoa, onde aluga o pasto. E neste período, a grande lembrança foi a compra em Londrina, na Jabur, de uma caminhonete zero quilometro: uma Toyota Bandeirantes 1972. O veículo, pago em duas parcelas com a venda de leite, está em perfeitas condições e ainda hoje é usado. “A Toyota mudou radicalmente a forma de trabalhar. Com ela eu entregava cerca de 300 litros de leite na cidade pela manhã. Á tarde, comprava leite nas fazendas, como a do Doutor Justino Alves Pereira, para entregar no Laticínio Estrela, em Ibiporã. Transportava mais de mil litros e fazia duas viagens”, diz.             
Curtindo a aposentadoria, tendo formados os filhos e netos como professores, comerciantes, empresários e engenheiros, além dos familiares administram seus negócios, ainda hoje Joaquim Nogueira é reconhecido na rua por Joaquim Leiteiro. “As pessoas guardam na memória os dias que eu andava de burro e à cavalo nas ruas de terra entregando leite. Vinha da Água das Flores até o Restaurante São Paulo. Passava na Avenida Antônio Brandao de Oliveira, onde moro há mais de 50 anos, na época que nem havia asfalto. Era nesta avenida que também passavam as boiadas com mais de 200 animais que iam para os frigoríficos ou fazendas da região”, recorda.                                                                
Aos 87 anos, há apenas dois anos ele deixou de montar a cavalo e carroça, quando vinha da área rural para a cidade. Mas, em oportunidades especiais, como cavalgadas e encontros de cavaleiros, faz questão de participar. Outro fato marcante foi quando os transportes como carro e ônibus não eram tão populares. Quando trafegava pela estrada, seja de carroça ou caminhonete, era comum os vizinhospedir carona. “Isto acontecia a quem ia trabalhar, estudar ou mesmo trazer compras”, recorda.                                 

Grande domador de cavalos, Joaquim Leiteiro teve a oportunidade de ganhar dinheiro com esta atividade, uma vez que comprava animais selvagens a preços baixos e após os domar, vendia para carroceiros. Outra atividade que lhe deu retorno foi a engorda e venda de porcos aos frigoríficos. “Isto era feito com leite, soroe queijo que sobrava, muitas vezes misturados com sangue de boi, vindos dos frigoríficos”, finaliza. 

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