Este editorial, de 12 de outubro de 2005, trata de uma questão muito ligada a política brasileira, o patriarcalismo e a hereditariedade política. Muito comum nos estados do Nordeste e nos antigos regimes oligarquicos, o patriarcalismo hoje é representado, segundo o Valor Econômico, pelos senadores Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), que têm seu neto, Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), como deputado federal e sub-relator da CPI dos Correios e, José Sarney (PMDB-PI), com os filhos Roseana Sarney e Sarney Filho.
O Valor Econômico cita que:
“O regime democrático reinaugurado em 1985, com a posse de um civil, José Sarney, na Presidência da República, mostrou que nada havia mudado no reino dos oligarcas. Um deles, inclusive, ocupasse a Presidência: Sarney consolidou seu poder estadual em 1966, quando foi eleito governador do Maranhão e depôs a oligarca anterior Vitorino Freire. A família Sarney ainda hoje domina o Estado. Sua filha, Roseana Sarney é senadora e, seu filho, Sarney Filho, foi deputado e já ocupou a pasta de ministro. Sarney e Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) são considerados os últimos oligarcas à moda antiga. ACM, que se consolidou na política destronando o anterior, Juraci Magalhães, ex-interventor do Estado Novo, é ainda o dono incontestável da política baiana. Preparou seu filho Luís Eduardo Magalhães como seu sucessor, mas ele morreu jovem. Agora investe no deputado federal Antônio Carlos Magalhães Neto”.
O Valor Econômico, ao criticar a prática do patriarcalismo, nos lembra que o regime militar, acabou e destituiu diversas famílias que realizavam a prática. No entanto, reconhece que não somente as velhas elites ou antigas oligarquias exercem a prática, mas também o Partido dos Trabalhadores começou a adotar isso, quando José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, incentivou seu filho, o Zeca do PT, a seguir o mesmo caminho, candidatando-se à prefeito de Cruzeiro do Oeste, um cidade do interior do Paraná, ao qual José Dirceu exerceu muita influência. .
Segundo o Valor Econômico, o Partido dos Trabalhadores, ao adotar à pratica, que é muito próxima do clientelismo, errou como os mesmos partidos ao qual ele sempre combateu.
“O PT, que durante pelo menos uma década discutiu a conveniência de se ‘institucionalizar’, inaugura a sua entrada na política hereditária. Criado como um partido de militância, a mobilidade interna, isto é, a possibilidade de acesso a cargos de direção e de disputa a cargos eletivos, dependia da representatividade do grupo interno ao qual o candidato a político pertencia e à sua representatividade a algum setor social. O deputado José Dirceu (SP), um dos maiores responsáveis pela crise ética e de identidade que se encontra hoje, introduziu a família como vetor de acesso à política, através do filho Zeca do PT”.
No entanto, não podemos esquecer à crítica referente ao patriarcalismo que corrompe as esferas públicas do poder e afeta os dois segmentos partidários e ideológicos. No caso de ACM Neto, ele pode ser a maior representação, ao ser o neto do senador Antônio Carlos Magalhães e os filhos de José Sarney também estão na mesma esfera. Desta forma, observamos que há erros graves contra a democracia, tanto no PT, quanto na organização do PFL e do PMDB, que adotam a prática da hereditariedade e patriarcalismo na política.
O jornal Valor Econômico, afirma que:
“A política brasileira, constituída à imagem e semelhança de uma sociedade patriarcal, incorporou como regra um estranho direito divino à hereditariedade. Isso é comum nos pequenos municípios, onde uma mesma família domina a política local e torna-se proprietária do aparelho partidário que lhe dá guarida. Quando o seu domínio é questionado, toma de assalto outro partido. Essa parcela de poder municipal pode alimentar com a mesma lógica, um partido estadual: nada impede que os grupos locais dominados por familiares se aliem a grupos que dominam o Estado. Aliás, essas famílias dependem de outras instâncias de poder, estadual e federal, para como depositárias do dinheiro público, alimentarem suas clientelas e mantê-las sob seus domínios. Isso, não é uma prerrogativa municipal, mas é uma lógica intrínseca à política brasileira”.
O editorial do Valor Econômico, ao reconhecer a prática desmedida em nosso país, toma parte da isenção e reflete os aspectos aos quais estamos condicionados a viver. Ao retratar a prática dos políticos como ACM e Sarney, ele nos traz a tona um problema a ser contornado e uma situação em que os eleitores devem prestar mais atenção. Pois, na democracia, é o voto representativo que determina as instâncias políticas e a divisão do poder. Por isso, a prática do patriarcalismo, é questionada e vista como algo que pode criar situações em que a corrupção pode contaminar a política. Pois, como dito no texto de 12 de outubro, o patriarcalismo está relacionado diretamente com a prática do clientelismo, para a manutenção do poder. Por outro lado, o Valor Econômico reconhece que José Dirceu, ao colocar o filho Zeca Dirceu na política, usou-se do mesmo expediente tão questionado anteriormente pelo PT. Mas, a qual lógica devemos nos orientar e seguir? O jornalismo, independente da linha editorial a ser seguida, deve ser muito crítico em relação a este tipo de prática política. Apesar de vivermos em uma democracia, a situação do patriarcalismo, pode dar argumentos, que no futuro possam justificar o nepotismo, que é o emprego de parentes no serviço público, através de nomeações. Tanto o PT, mas principalmente as velhas oligarquias do Nordeste, deveriam tomar cuidado para que um futuro “escorregão” não transformassem a prática eleitoral, que se baseia na democracia, não se transforme em um “cabide de empregos”, que se constrói a partir do nepotismo, clientelismo, trafico de influências e patriarcalismo, molde central da nossa discussão.
Portanto, devemos concluir, dizendo que: O Valor Econômico, ao criticar o patriarcalismo, independente de qual seja a esfera política e ideológica, contribui para a formação crítica de seu leitor, que não é conivente com as práticas suspeitas a qual está submetida a política brasileira. Ao condenar os políticos e citar suas práticas, coloca um ponto de vista e compara duas situações, independente de quais sejam suas linhas partidárias.
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