No editorial de 6 de outubro de 2005, o Valor Econômico aborda as questões referentes a ética e qual é o comportamento que deve guiar os políticos. O jornal cita, que devido ao quadro de instabilidades ao qual, quem está inserido na vida política é obrigado a viver, as posições e determinações a serem tomadas, nunca serão as mesmas e sempre estarão subjetiveis as transformações de opiniões. Toda esta relação está ligada a posição do Governo Petista diante de uma crise, suas mudanças de opinião, devido a situação política e, principalmente, os fatores que o levaram a apoiar o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-AL), que apesar de ser um grande aliado do Governo, teve sua imagem desgastada, devido estar envolvido em um esquema de propina que pedia dinheiro para a renovação de um contrato de concessão a um empresário que administrava um restaurante na Câmara.
No entanto, a maior crítica do jornal, está no modo em que o Governo vê toda a crise. Passando-se por “desentendido”, Lula e o Governo não se preocupam com as acusações, ou tentam mostrar que os problemas não são com eles, mas com os outros. Desta forma, parece que o Governo tenta “enganar” ou até mesmo se omitir do que está acontecendo, para que no futuro, não seja associado com os culpados, mesmo que eles sejam do seu partido e o ajudou a se eleger. Ou então que toda a culpa caia sobre os aliados, que precisam do apoio do presidente, mas neste momento, de muitas dificuldades, não encontrar a ajuda necessária. Desta forma, o Valor Econômico acredita que aos poucos, o Governo e seus aliados vão se desfragmentando e mudando de opinião para que não saiam enfraquecidos. A idéia vai de acordo com o início do editorial, que afirma que na política, nada ;e constante, mas tudo pode mudar devido a situação:
“O ex-deputado Magalhães Pinto, conspirador do golpe militar de 1964 e dissidente do regime ao seu final, lançava mão de uma imagem para definir a política: ‘Política é como nuvem: você olha e vê um formato, mas quando olha de novo já vê outro’, dizia. Nos momentos de crise política, então, a volatilidade é extrema: pode ir do céu de brigadeiro a uma chuva torrencial. Talvez por essa capacidade de auto transformar-se e, em alguns momentos, adquirir dinâmica própria que responde a processos, mas não à vontade dos atores políticos, a política exige habilidade para a adequação aos ventos que mudam o seu rumo. A manutenção de um padrão de comportamento em situações em que os ventos sopram na direção contrária é uma suprema habilidade política”.
Assim, ao avaliarmos que o editorial trata das intempéries a qual está submetido os políticos, mas se esquece de citar que o envolvimento têm uma causa muito simples: a corrupção que está instalada na esfera pública, é a principal causa dos problemas. O Valor Econômico, deveria estar ciente de quem nem sempre a corrupção envolve dinheiro, mas está no ato de corromper, assediar e outras atividades que podem ser consideradas como ilícitas. Segundo Antônio Frederico Zancanaro, em A corrupção político administrativa no Brasil:
“Numa perspectiva de senso comum, diz ‘imaginamos sempre que corromper uma autoridade significa pagar a essa autoridade para que faça ou deixe de fazer determinada coisa em sua capacidade oficial’. Essa idéia pode não estar correta. E exemplifica afirmando que há casos de corrupção nos quais os objetivos em jogo podem ser meramente eleitorais, sem envolvimento de recursos econômicos imediatos. Mesmo assim, assevera o autor, a corrupção jamais deixará de constituir-se num estigma indesejável no seio de qualquer sociedade politicamente organizada, quer o sistema de dominação esteja fundado sobre pressupostos racionais. Qualquer expediente, portanto, que fira a ordem estabelecida, conhecida a socialmente aceita, com o objetivo de auferir lucros ou benefícios privados indevidos através do uso de prerrogativas do poder cedido dentro do Estado caracteriza-se como corrupção”.
Deste modo, o jornal deveria classificar Severino Cavalcanti, independente que faça parte da bancada de apoio ao presidente, como corrupto. Ao pedir suborno para a renovação da concessão do restaurante e se aproveitar da condição e do cargo que ocupa, Severino foi justamente repreendido e punido por um ato ilícito. O ato, mostra que o Governo está perdendo forças e que precisa tomar medidas de apoio, para que na fique enfraquecido.
O Valor Econômico, ao trazer a opinião da oposição ao Governo em seus editoriais, contribui para a manutenção da democracia, no entanto, deve-se sempre ficar a tento para que estas mesmas reações da oposição, não se possam confundir com o atrelamento a interesses financeiros. Como no sétimo parágrafo, que diz o seguinte:
“A oposição tem mantido uma postura melhor nesse momento. O discurso, nesse caso, é pela preservação da instituição parlamentar. Emite sinais de que não usará o episódio para tomar o poder no Congresso, nem polarizará com o governo quando a unidade dos partidos nele representados é fundamental para resolver uma crise chamada Severino. Tem acenado inclusive com um nome petista para o cargo, desde que com posições independentes do governo e trânsito em todos os partidos. Para que as articulações das pessoas interessadas em restabelecer a dignidade do Legislativo dêem resultado, é preciso que Severino tenha um único gesto digno desde que assumiu a presidência da Câmara: renunciar ao cargo de representante dos deputados federais. É importante para a democracia que essa transição não seja feita ao arrepio da lê”.
No trecho acima, notamos que há muita interferência do jornal nas questões que predominam no Congresso. Ao citar que Severino Cavalcanti deveria renunciar, O Valor Econômico se usou do expediente da tentativa de induzir o presidente a renunciar. A renuncia, acabaria de vez com as suspeitas, mas o colocaria (Severino) na condição de inocente. Deste modo, caso houvesse uma nova eleição, ele seria reeleito. A crítica correta, seria a de criticar Severino e promover um debate sobre a questão: se houve propina, quais forma os motivos que o levaram a aceitar. Sendo assim, haveria um julgamento justo e no caso do réu ser culpado, ele cumpria sua pena, que é o cerceamento de seus direitos políticos. Desta forma, não seremos coniventes com a corrupção e contribuiríamos para que o julgamento justo e ético fosse feito para o aliado do Governo, sem subterfúgios que o deixassem impune.
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