Era madrugada, o sol não demoraria a nascer e a gralha ainda estava acomodada no galho amigo onde dormira à noite, quando ouviu a batida aguda do machado e o gemido surdo do pinheiro. Lá estava o machadeiro golpeando a árvore para transformá-la em tábuas. A gralha acordou. As pancadas repetidas pareciam repercutir em seu coração. Num momento de desespero e simpatia, partiu em vôo vertical, subiu muito além das nuvens para não ouvir mais os estertores do pinheiro amigo. Lá nas alturas, escutou uma voz cheia de ternura:
- Ainda bem que as aves se revoltam com as dores alheias. A gralha subiu ainda mais, na imensidão. Novamente a mesma voz a ela se dirigiu:
- Volte avezinha bondosa, vá novamente para os pinheirais. De hoje em diante, Eu a vestirei de azul, da cor deste céu. Ao voltar para o Paraná, você vai ser minha ajudante e plantar pinheirais. O pinheiro é o símblo da fraternidade. Ao comer o pinhão, tirá-lhe primeiramente a cabeça, para depois, a bicadas, abrir-lhe a casca. Nunca esqueça: antes de terminar o seu repasto, enterre alguns pinhões com a ponta para cima, já sem cabeça, para que a podridão não destrua o novo pinheiro que dali nascerá. "Do pinheiro nasce a pinha, da pinha nasce o pinhão... Pinhão que alegra nossas festas, onde o regojizo barulhento é como um bando de gralhas azuis matracando nos galhos altaneiros dos pinheiros do Paraná. Seus galhos são como braços permanentemente abertos, repetindo às auras que o embalam o meu convite eterno: Vinde a mim todos..."
A gralha por uns instantes atingiu as alturas. Que surpresa! Onde seus olhos conseguiam ver seu próprio corpo, observou que estava todo azul. Somente ao redor da cabeça, onde não enxergava, continuou preto. Sim preto, porque ela é um corvídeo. Ao ver a beleza de suas penas da cor do céu, voltou célere para os pinheirais. Tão alegre ficou que seu canto passou a ser um verdadeiro alarido que mais parece com vozes de crianças brincando.
"O plantador de pinheiros", escrita em 1925 por Eurico Branco Ribeiro, no livro "A sombra dos pinheiros".
- Ainda bem que as aves se revoltam com as dores alheias. A gralha subiu ainda mais, na imensidão. Novamente a mesma voz a ela se dirigiu:
- Volte avezinha bondosa, vá novamente para os pinheirais. De hoje em diante, Eu a vestirei de azul, da cor deste céu. Ao voltar para o Paraná, você vai ser minha ajudante e plantar pinheirais. O pinheiro é o símblo da fraternidade. Ao comer o pinhão, tirá-lhe primeiramente a cabeça, para depois, a bicadas, abrir-lhe a casca. Nunca esqueça: antes de terminar o seu repasto, enterre alguns pinhões com a ponta para cima, já sem cabeça, para que a podridão não destrua o novo pinheiro que dali nascerá. "Do pinheiro nasce a pinha, da pinha nasce o pinhão... Pinhão que alegra nossas festas, onde o regojizo barulhento é como um bando de gralhas azuis matracando nos galhos altaneiros dos pinheiros do Paraná. Seus galhos são como braços permanentemente abertos, repetindo às auras que o embalam o meu convite eterno: Vinde a mim todos..."
A gralha por uns instantes atingiu as alturas. Que surpresa! Onde seus olhos conseguiam ver seu próprio corpo, observou que estava todo azul. Somente ao redor da cabeça, onde não enxergava, continuou preto. Sim preto, porque ela é um corvídeo. Ao ver a beleza de suas penas da cor do céu, voltou célere para os pinheirais. Tão alegre ficou que seu canto passou a ser um verdadeiro alarido que mais parece com vozes de crianças brincando.
"O plantador de pinheiros", escrita em 1925 por Eurico Branco Ribeiro, no livro "A sombra dos pinheiros".
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Uao
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