Cauã saiu muito cedo de casa para estudar. Era antropólogo e vivia na Amazônia, o “pulmão” da humanidade. Lembra-se com saudades da família e da longa viagem, feita de avião, ônibus e barco, que o levou até onde mora, nos confins da Amazônia, muito próximo a divisão do Brasil com o Peru e a Colômbia. Viu botos cor-de-rosa, que, segundo a lenda, transformam-se em belos e sedutores homens, índias que viviam nuas como no período pré-histórico, as belas matas brasileiras, animais e aves em perigo de extinção, a Pororoca (encontro entre os rios Negro e Solimões) e a exuberância de Manaus. Apesar disso tudo, perdera a visão romântica da vida devida sua obstinação pela antropologia e pelo modernismo, que conheceu em São Paulo, a grande Selva de Pedras. Morava na Amazônia há dois anos e lá fez muitas amizades com nativos, índios, bolivianos, venezuelanos, colombianos, peruanos e até europeus e norte-americanos que iam lá à pesquisa ou a turismo.Além da antropologia, Cauã era fotógrafo, profissão na qual tirava grande parte de sua renda. Enviava as fotos, via internet, para serem publicadas em revistas especializadas em São Paulo e também para pesquisas científicas, dessas, onde descobria, aos poucos, fatos inéditos e surpreendentes daquele local. Uma delas foi que numa região isolada da Amazônia, próximo ao Peru, havia há cerca de 400 anos, uma população indígena evoluída em relação às outras tribos, quanto às ciências e cultura. Pesquisas e relatos históricos captados por entrevistas, manuscritos e pictografias, apontam para o conhecimento e uso da roda na produção agrícola e de animais, parentes da lhama, no transporte de mercadorias. O comércio entre as tribos era intenso, eles irrigavam as plantações via dutos subterrâneos e se comunicavam, na forma escrita, por códigos e sinais compostos de letras e números. Alguns desenhos mostram traços físicos diferentes. Se pareciam muito com pássaros, seus lábios eram alongados e seus corpos revestidos de penas. Produziam instrumentos musicais e a sociedade era organizada politicamente de forma igualitária. No entanto, a população desapareceu. Restaram poucos sobreviventes e sabe-se que foram extintos pela gana de conquistadores que os escravizaram até a morte. Alguns remanescentes escaparam e se esconderam na mata densa. Muito do que se conhecia virou lenda, transmitida oralmente para futuras gerações de outras tribos. Cauã viu ali um fato inédito que deveria ser pesquisado mais a fundo e que renderia uma publicação científica. Foi aí que ele conheceu o elo perdido e a lenda de Piranã.
Nenhum comentário:
Postar um comentário