Todos os movimentos, independente da origem, apresentam em sua linguagem características que o identificam e características de outros movimentos ou ideologias que o antecederam. Não tendo uma identidade própria, os novos movimentos utilizam símbolos, experiências organizativas e formas de ação idealizadas e baseadas nos movimentos anteriores. As revoluções, os movimentos operários e a sociedade socialista foram referências rituais que alimentaram a linguagem dos movimentos.
Diante disso, o sistema, que não é centralizado, torna-se uma rede de relações entre estruturas diferenciadas e relativamente autônomas, nas quais é necessário administrar o equilíbrio entre o poder centralizado e os poderes autônomos. Observa-se que nenhuma mudança pode operar em todos os níveis de um sistema, no qual diversos componentes funcionam segundo lógicas próprias. Raras as exceções, existem duas que se destacam: o domínio absoluto, que negue fortemente a especificidade e as diferenças entre os elementos que compõem o sistema social, reconstruindo uma comunidade que tem a transparência da violência total. No outro extremo, uma catástrofe nuclear ou ecológica, que negue a complexidade ocultando tudo na destruição. Aquém desses limites, as transformações nos sistemas complexos se situam somente sobre os planos específicos, segundo lógicas pertinentes de funcionamento, que não se transmitem, automaticamente, de um nível a outro e que nunca atingem simultaneamente a globalidade do sistema.
A mudança, como exigência permanente de adaptação do sistema e dos sistemas às variáveis de ambiente e às necessidades do equilíbrio interno transforma-se em fenômeno central. A mudança da qual se fala nos sistemas complexos são específicos e não é transferível diretamente a outros níveis ou sistemas: cada variação tem efeitos sobre o conjunto, mas sempre mediatos. Em todo contexto a identidade é o fator que define a individualidade. Assim, os movimentos contemporâneos não são totalizantes e devem aceitar a pluralidade dos planos e dos instrumentos da transformação social e sua irredutibilidade a respeito das suas diferenças.
Nunca como nos sistemas complexos as relações políticas se tornaram importantes. É necessário administrar a complexidade por meio de decisões políticas, das quais é necessário assegurar freqüência e difusão para reduzir a incerteza dos sistemas que mudam com rapidez excepcional. A complexidade e a mudança exigem decisões, criam uma pluralidade e uma variabilidade de interesses, incomparáveis com situações do passado, como a multiplicidade dos problemas a serem resolvidos. Esse processo esta ligado à complexidade, à necessidade de fazer frente a um ambiente mutável e ao multiplicar as exigências de equilíbrio interior do sistema. Deve-se considerar que os processos decisórios funcionam por meio da representação e qualquer processo de transformação política, avalia-se com tensão entre as estruturas de representação e demandas ou interesses dos representados.
De uma visão totalizante da política, passa-se ao reconhecimento da sua especificidade e da sua função necessária. Nas sociedades complexas, a política se transforma em possibilidade de mediação entre os interesses para produzir decisões. Ela não é a totalidade da vida social, em dois sentidos. Antes de tudo porque existe alguma coisa que vem antes da política, que a delimita e a condiciona: existem relações sociais e interesses que a precedem e que nela se traduzem e se mediam. A política não representa toda a realidade social porque existem âmbitos e dimensões que fogem e não se reduzem a ela.
A vida dos movimentos depende do funcionamento dos sistemas políticos, de instâncias nas quais entra uma multiplicidade de interesses, através da representação e de processos decisionais para a alocação de recursos. Essas instâncias políticas se multiplicam nas sociedades complexas muito além do sistema político restrito. Elas fornecem as condições para que o dissenso possa manifestar-se. A salvaguarda dos direitos das minorias, a visibilidade e o controle dos procedimentos decisionais, o grau de representatividade real dos mecanismos eleitorais, a qualidade dos filtros que regulam o acesso ao sistema político e o grau de elasticidade das regras do jogo político criam espaços para a expressão das demandas sociais. Com isso, os movimentos contemporâneos, por sua natureza, não podem ter eficácia senão pela mediação dos atores políticos e criam espaço no qual se tornam visíveis os dilemas profundos que caracterizam os sistemas complexos. Existe a necessidade de mudança e a exigência de manter um núcleo normativo e prescritivo estável. De um lado, trata-se de considerar os interesses mutáveis das multicolorações dos atores sociais e variabilidade de suas agregações. De outro, é necessário garantir sistemas de regras e de prescrições capazes de dar previsibilidade aos comportamentos e aos procedimentos. Dentro dos sistemas complexos, revela-se uma elevada fragmentação do poder e uma tendência paralela à concentração do mesmo. Multiplicam-se os grupos portadores de interesses, capazes de organizar-se e de obter vantagens no intercâmbio político; fragmenta-se a estrutura decisória dando vida a uma multiplicidade de governos parciais, bastante difíceis de serem coordenados. Paralelamente, assiste-se à consolidação dos aparatos que concentram, no seu interior, as decisões sobre os fins, submetendo-os a qualquer controle e a uma visibilidade. Os espaços nos quais se decide o sentido do agir coletivo tornam-se invisíveis e impermeáveis.
Nos sistemas complexos observa-se uma tendência ao alargamento da cidadania e a participação, enquanto aumenta a necessidade de planificação da vida social por meio dos aparatos burocrático-administrativos. A ampliação da esfera dos direitos individuais e coletivos impõe o planejamento como necessidade de coordenar a pluralidade dos interesses e das decisões para salvaguardar tais direitos.
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