sábado, 14 de junho de 2008
O rap de hoje é diferente de vinte anos atrás.
As letras retratam a violência e denunciam a opressão contra os pobres, moradores das periferias e excluídos do mundo do sistema. Inserido no movimento hip hop, o rap é engajado, ganhou respeito da sociedade e os Mc´s são poetas e rimadores contemporâneos.
O Grupo IML, Inspiração Muito Louca, é uma alusão a sigla do Instituto Médico Legal, conforme Emerson Carlos da Costa, 25, que mora no Jardim São Jorge. “A periferia foi muito violenta e tive amigos que morreram na criminalidade. Fizemos o IML com objetivo de resgatar e conscientizar os jovens sobre os perigos das drogas. Cabe a cada um escolher o caminho a seguir”.
Além de Emerson, o IML conta com Paulo Inácio Antunes, 25, do São Jorge e Leandro Claudino, 26, do José Giordano. Paulo conheceu os outros integrantes em eventos de rap e hoje gravam o CD “Evolução para os pobres”. “São letras baseadas na trajetória do São Jorge. Éramos uma favela. Hoje somos um bairro devido à perseverança dos moradores. Muitos não tinham nada, mas construíram suas casas e famílias. É a evolução que está em andamento”, diz Paulo.
Críticos a violência, os integrantes do IML participam da ONG União Comunitária das Periferias, a UCP. A ONG faz trabalhos sociais e luta pela estima e melhorias das condições para excluídos, presidiários e suas famílias. “Quando um jovem caminha para o mundo do crime, conversamos com ele para que vá a escola ou que participe de uma oficina nos projetos sociais desenvolvidos no São Jorge”, completa Emerson, que prefere a construção de escolas a das cadeias. “Nas cadeias o rap é muito forte. Lá as pessoas sofrem sem que os outros vejam e a música esta relacionada com a liberdade”.
“Quem mora na periferia é oprimido. A vivência na periferia não é um teatro burguês”, diz Leandro que trabalha de office-boy e cursa o ensino médio no Colégio Adélia Dionísia Barbosa. “Evolução para os pobres são histórias verídicas e vários amigos também cantam. Na música ‘Gotas de Sangue’ existem depoimentos de adolescentes infratores em recuperação. Eles denunciam a opressão do sistema carcerário”, completa.
O Pira-Pura surgiu na junção dos grupos Arquivo X, Arquivo Zona Norte e Mensageiros de Rua. A formação atual tem Valdir Almeida Silva, 30, o Sujinho, do Heimtal e Anderson Gonçalves Nunes, 23, o Pateta, do Violim. Com dois Cd´s gravados o Pira Pura é conhecido no Japão, onde venderam seiscentas cópias e são vários os sites de relacionamento, na internet, dedicados a eles.
“Para tudo tem começo” é o primeiro disco com 21 faixas e a música de trabalho é “Largada Nóia”, que crítica os entorpecentes. “Vendemos setecentas cópias em noventa dias”, diz Pateta. Sem depender de leis de incentivo a cultura o som do Pira Pura é tocado em rádios educativas e comunitárias. “Se você tiver dinheiro paga um valor determinado para a rádio comercial vincular a música durante trinta dias. Isso é ‘jabá’ e desvaloriza o trabalho do artista. A rádio comunitária abre espaço. Lá somos bem recebidos. Ela é um canal de comunicação para os mais pobres. Retribuímos isso com apresentações beneficentes onde arrecadamos alimentos e cobertores” diz Sujinho.
O outro CD do Pira Pura é “Tem gente que ri, tem gente que aplaude”, que vendeu mil e duzentas cópias em noventas dias. “O hit ‘5:20’ narra à estória de uma pessoa comum que mora no Cincão. Ao se dirigir para o trabalho encontra um malote com dinheiro que transforma sua vida” completa Pateta.
Produzindo o terceiro CD, Sujinho relata que o Pira Pura busca composições criativas que retratem o cotidiano. “Rap é liberdade. A partir de um fato, escrevo uma música”.
Edson Arlem Andreole, 28, do Vivi Xavier, jamais se esquecerá de 20 de março de 2001. “Foi o dia que surgiu a Sociedade Periférica”. O grupo ainda tem Joaquim Fernando Rodrigues, 29, do Maria Cecília e Jefferson de Castro, 27, da Vila Portuguesa. Na trajetória, apresentações comunitárias e participação em exposições fotográficas do Festival Internacional de Teatro, que acontece todos os anos em Londrina. “Em 2004 gravamos a coletânea ‘Z.N.’ com outros dez grupos. A música de trabalho foi ‘Homem do Gueto’ que relata o trabalho e a dignidade humana. Nada cai do céu e fazemos uma reflexão sobre o sistema”. No mesmo ano a música foi vinculada em rádios educativas e comunitárias, como o programa “Hip Hop e Cia.”. “Éramos convidados a debater sobre rap e sua representação na comunidade”, diz Jefferson.
Segundo Arlem, o rap expõe a criminalização e o preconceito contra os mais pobres. “Muitos falam que rap é apologia ao crime. Quem diz isso não analisa o problema social com maior profundidade. A bebida, o cigarro e a prostituição ninguém critica”. Mesmo sem ganhar nada, a Sociedade Periférica fez rap comunitário do Vivi Xavier com mais de quinhentas pessoas na platéia. “Fechávamos à rua e se emocionamos quando crianças subiam ao palco descalças e sem camiseta para cantar junto conosco”.
Joaquim afirma que ultimamente a Sociedade Periférica ensaia e se reestrutura para voltar a cantar.
O rap do Retrato das Ruas prefere ser reconhecido pela independência. Formado por integrantes de Cambé, o RDR produz um CD com treze faixas, prensado e original. “Há participação de grupos londrinenses”, diz Max dos Anjos, 21, do Jardim Silvino. O RDR ainda tem Márcio Vieira Martins, 23, e Henrique da Silva Nestório, 21, ambos do Ana Elisa. “A divulgação do grupo é feita de maneira inusitada. Gravamos cinco músicas em trinta CD’s. As cópias são distribuídas gratuitamente em rádios, para amigos e lojas que vendem artigos e CD’s de rap”, diz Márcio, que recentemente lançou um trabalho do grupo no YouTube, site da internet que agrega diversos vídeos.
Juntos há oito anos e ensaiando duas vezes por semana, o RDR participou de três coletâneas: “Revolução através da Política”; “Expressão Hip-Hop”; e “Voz Ativa Apresenta”. “Com a coletânea ‘Revolução através da Política’ ganhamos visibilidade na revista Rap Brasil, que é segmentada e tem circulação nacional”, diz Márcio.
A independência do RDR é percebida no discurso crítico de Max. “Rap é a revolta expressa nas palavras. Somos da periferia e representamos o povo. O grafite é um exemplo da contracultura onde o grafiteiro é um artista pós-moderno das ruas”. Conscientes do papel que exercem na sociedade, de alertar a todos sobre a opressão contra o mais pobres, Henrique diz que o rap é sério e voltado à dignidade humana. “Quando alguém é assassinado na periferia, a imprensa busca o lucro com o espetáculo grotesco e a desgraça da miséria. Mas quando são chamados para mostrar o trabalho de um artista, eles jamais virão. Cabe a nós dar ‘voz ao povo’ nas letras das músicas”.
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2 comentários:
Bom Despacho, e este post me ajudou muito na minha assignement faculdade. Agradecimentos você como suas informações.
hola, Chicos, Esta es mi primera visita i tiempo aquí. He encontrado cosas interesantes para muchos en su blog sobre todo el debate. De las toneladas de comentarios sobre sus artículos, creo que no soy el único que tiene toda la diversión aquí! mantener el buen trabajo.
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