Retomamos o panorama
da literatura com a música brasileira em relações tão ricas que surgem na forma
de citações, elementos de linguagem, poemas inteiros musicados e hibridismo da
música com a poesia e a prosa.
Ainda
nos anos 80, situamos Paulo Ricardo como um letrista influenciado pela MPB e
por nomes como Bob Dylan, Rimbaud, Drummond e John Lennon. A metáfora de suas
letras permitiu que o protesto e a denuncia política viessem marcados pelo
lirismo como em ‘A cruz e a espada’:
“Agora é tarde, acordo tarde
Do meu lado alguém que eu não conhecia
Outra criança adulterada pelos anos que a pintura
escondia”.
Cazuza
utiliza a ironia e as referências a seus ídolos como Luiz Melodia, Rimbaud,
Allen Ginsberg, Lou Reed e Drummond como ponte para uma poesia cortante que
ilustra bem as verdades fugazes e as desilusões políticas e ideológicas em
nosso tempo. Na canção “Só se for a dois”, Cazuza debate o humanismo religioso
e sua realidade nos quatro cantos do mundo.
Marina
Lima tem uma relação forte com a poesia em estado puro. Ela musicou textos
originais do irmão Antonio Cícero, numa parceria interessante, onde o filósofo
carioca também produziu letras especialmente para a cantora.
O panorama da MPB tem um lugar
especial aos letristas que colaboraram durante décadas com compositores:
Bernardo Vilhena com Ritchie e Lobão; Fernando Brant com Milton Nascimento;
Aldir Blanc com João Bosco; Vítor Martins com Ivan Lins e Alice Ruiz com Itamar
Assumpção. Itamar é um nome fundamental da vanguarda paulista, mas viveu a
infância e juventude em Cambé e desta saiu, aconteceu para o Brasil e para o
mundo.
O londrinense Arrigo
Barnabé utiliza frases curtas e cheia de imagens (quase haicai). Nos anos 80
dedicou canções a Londrina, Tamarana e Ibiporã, aproximando a juventude
universitária dos nossos costumes e cenários.
Djavan é um caso
especial de fusão da música calçada no samba e no jazz, cujas letras seguem o beat musical como Sina: “Pai e mãe, ouro
de mina. Coração, desejo e sina. Tudo o mais: pura rotina: jazz!”. Suas canções
românticas ao contrário produzem imagens únicas, como a cena que Deus cria
galáxias e dinossauros para impressionar a amada do poeta em “Te devoro”.
Há diversas trilhas sonoras
para TV, cinema e filmes baseados em livros em que o compositor opta por misto
de canções e peças instrumentais. Nas canções, utilizam trechos de livros e
traçam um perfil dos personagens como em Dona Flor (Chico Buarque); O tempo e o
vento (Tom Jobim); Tieta (Caetano) e Sítio do Pica Pau Amarelo (Dori Caymmi).
Por
fim, lembramos a emblemática “Lanterna dos Afogados”, de Herbert Vianna,
compositor e letrista de grande qualidade. A letra fala sobre os pescadores que
saem ao mar e nem sempre voltam. O risco é freqüente e as mulheres ficam
aflitas, rezando e torcendo para ver o marido de novo. Para elas, a noite é
longa e, sabendo da rotina, o medo sempre está presente. O nome Lanterna dos Afogados vem
de um capítulo do livro “Jubiabá”, de Jorge Amado. O capítulo retrata o bar
Cais do Porto, onde as mulheres esperavam os maridos com lanternas para
ajudá-los a achar o caminho certo.
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