Empreendedor determinado, passional, oportunista, inescrupuloso, perdulário, diga-se o que for, William Randolph Hearst - o Cidadão Kane de Orson Welles - permanece como figura exponencial na história do jornalismo, um "rei sem coroa", mas um rei, como é mostrado em nova biografia.
"O trem chegou à meia-noite, com mais de nove horas de atraso, e 20 passageiros desceram dos vagões cobertos de neve. Todos estavam congelados e famintos, mas satisfeitos por terem escapado com vida", escrevia o "San Francisco Examiner". Em outras ocasiões, segundo o jornal, os trens estavam tão atrasados que "o passageiro corria o perigo da senilidade". E, em retorno pelas tarifas exorbitantes, o material da ferrovia era tão velho que as chances de sobrevivência do público eram "iguais às de um soldado no campo de batalha". Quando havia um acidente, pequeno ou grande, os repórteres do "Examiner" corriam para entrevistar os "sobreviventes".
O "San Francisco Examiner" era o jornal que William Randolph Hearst tinha recebido de seu pai, o senador George Hearst, um multimilionário que enriquecera com minas de cobre, ouro e prata e era um dos maiores acionistas das mineradoras Anaconda e Homestead. Ele mandou seu filho Willie estudar em Harvard, mas não conseguiu que se formasse. Willie preferia o jornalismo. Admirava Joseph Pulitzer Jr., que tinha comprado um jornal praticamente falido, o "New York World", e em dois anos aumentou em dez vezes as vendas e o transformou em pouco tempo no diário mais influente, mais rentável e de maior circulação de Nova York. O diário de Pulitzer, com manchetes chamativas e reportagens incisivas e agressivas, se convertera no defensor dos pobres, dos imigrantes, dos operários, dos oprimidos, dos "underdogs" - os miseráveis. E no flagelo dos grandes negócios.
Quando, em 1887, com 24 anos, conseguiu que seu pai lhe cedesse o "San Francisco Examiner", um diário deficitário e o de menor circulação da cidade, que comprara para fazer propaganda política, Willie adotou Pulitzer e o "World" como modelos. Contratou jornalistas com salários raramente vistos, renovou os equipamentos e partiu para fazer um jornalismo sensacionalista, exibicionista e populista, com ênfase nas emoções, no inesperado e curioso, com zelo reformista, na defesa do cidadão comum e no ataque aos monopólios, bem escrito e bem ilustrado. Toda edição que não obrigasse o leitor a levantar-se da cadeira e dizer "Meu Deus!", era considerada um fracasso. Com pouca modéstia e talento especial para a autopromoção, tinha como "slogan" o "Monarca dos Diários". Na política apoiava o Partido Democrata, o mesmo de seu pai.
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