Começou assim a construção do que foi provavelmente o maior império jornalístico da história, formado por dezenas de jornais e revistas, estúdios de cinema, agências de notícias, e a formação de uma lenda em torno de William Randolph Hearst, um milionário que não se sentia bem entre os ricos; com um talento extraordinário para o jornalismo e para gastar centenas de milhões de dólares da época em objetos de arte e na construção de obras faraônicas. Sua figura enigmática atraiu dezenas de escritores. Provavelmente, ele será mais lembrado no futuro por ter servido de inspiração a Orson Welles a criar o Cidadão Kane, do que por todo seu dinheiro ou pela influência de seu império.
Com Hearst, o "Examiner" iniciou uma longa série de campanhas. Um de seus alvos foi a Southern Pacific, dona também da Central Pacific, que tinha o monopólio do transporte ferroviário na Califórnia e das conexões com o Leste dos Estados Unidos. As tarifas das passagens e frete eram exorbitantes e o serviço precário, mas nada era feito porque a empresa tinha os políticos no bolso e controlava a maioria dos jornais. Hearst iniciou uma persistente campanha contra a ferrovia, tanto com editoriais como com reportagens, apesar de seu pai ser amigo de um dos principais acionistas. A Southern Pacific tinha usado pouco capital próprio; quase todo o dinheiro investido era do governo, mas alegava não poder pagar esse dinheiro de volta sem levar a empresa à falência. A campanha do "Examiner" durou anos e serviu para aumentar a sua popularidade e a circulação. Outro alvo foi a companhia de águas, que também abusava de seu monopólio, para cobrar tarifas elevadas. Foi obrigada a reduzir o preço como resultado da campanha.
Hearst queria um jornal acessível até para o mais humilde dos leitores. Ao iniciar sua carreira no "Examiner", uma jovem repórter ouviu uma das melhores lições que um jornalista pode receber. Adaptado, o conselho foi o seguinte: "Há um operário que entra de madrugada no trabalho. Enquanto aguarda, ele abre o jornal. Pense nele ao escrever uma reportagem. Não escreva uma única linha que ele não possa entender e que ele não vá ler".
Ele era tolerante com os excessos de seus melhores jornalistas. Quando um editor quis demitir um repórter por embriaguez, Hearst respondeu: "Se ele está sóbrio um dia em cada 30 é tudo que eu preciso". Dizia-se que o dono era a única pessoa sóbria da redação. Em outra ocasião, o chefe de reportagem quis demitir um repórter, mas este se negou a ir embora. Ao avaliar a situação, Hearst disse que um superior, num caso desses, podia mandar embora um subordinado. O repórter, com sotaque irlandês, disse que havia um problema: "Não quero ser demitido". Hearst levantou os braços, olhou para o executivo: "Neste caso, não há nada que possamos fazer". E o repórter continuou no "Examiner".
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