Há
um ano escrevi sobre mulheres criativas na história da cultura brasileira e
região. Mulheres que fazem diferença, agregam valor simbólico e sensibilidade
na música, cinema, dramaturgia, literatura e jornalismo.
Mas
ao longo do tempo e principalmente no mundo contemporâneo, a mulher é mais que
um tema. Ela transcende metáforas e protagonista mesmo quando tabus da
sociedade a impediam de votar, trabalhar fora e ter decisão sobre sua vida e o
próprio corpo. Quando tudo isto era difícil, elas alimentavam a alma com
mistério, sensibilidade, intuição e nos ensinavam em silêncio.
Por
isto, hoje nosso artigo destaca as mulheres protagonistas da ficção em várias
áreas da cultura e da arte. Protagonismo que em alguns casos, surge pela força
de personalidades, magnetismo criados para estarem em segundo plano e que se
levantam das páginas dos livros, das telas do cinema e da TV ganhando vida nas
ruas e casas.
Ana
Terra, Tieta do Agreste, Isaura, Capitu e Gabriela romperam barreiras sociais
com histórias densas passadas em lugares e épocas diversas, influenciando
gerações de brasileiros que lutaram por avanços em nossa sociedade nas questões
como mercado de trabalho, divórcio, racismo e a presença feminina na política.
O
romance “O tempo e o vento” de Érico Veríssimo tem em Ana Terra uma jovem que
passa por grande sofrimento, privação da escolha e liberdade num mundo dominado
por homens. Ela desenvolve força interior para criar o filho e renascer após o
período de guerra que tem muita a ver com Tieta de Jorge Amado e a escrava
Isaura de Bernardo Guimarães.
Na
obra de Clarice Lispector, o feminino e códigos subjetivos são protagonistas
absolutos. Alegrias e angústias na alma da mulher são mais importantes que os
fatos da vida cotidiana ou grandes soluções para conflitos coletivos. Capitu
resiste ao tempo como personagem que provoca temor, ódio e paixão na vida do
Dom Casmurro, de Machado de Assis.
A
canção nacional tem um capítulo especial sobre temas musicais onde a mulher se
sobressai: a valsa atonal que lança poesia e beleza sobre Luiza (Tom Jobim); a
mulher que surge nos movimentados anos 70 com liberdade e política na Tigresa
(Caetano Veloso); a Maria, Maria das ruas, das lutas, dos dramas e da fé na
música de Milton e Fernando Brant. A atmosfera que traz a dança e a resistência
no maracatu e frevo de Dora (Caymmi) e o homem que se transmuta em flor para se
reconhecer na mulher e cantar que o verão é o apogeu da primavera, em Super
Homem (Gil).
A
teledramaturgia esteve à frente das normas sociais em vários momentos e em
todos, a mulher foi protagonista das mudanças: Porcina, a viúva inquieta e
poderosa de Roque Santeiro; a força da mulher nordestina que vence na vida e se
torna líder de um povo como a Maria do Carmo em Senhora do Destino e as Helenas
loiras, morenas e negras nas novelas de Manoel Carlos, com seus dramas e
desafios profissionais e familiares. Nos anos 70, a ousadia de Janete Clair deu
vida a Simone (Selva de Pedra) e Gilberto Braga incendiou as noites brasileiras
com Júlia Matos, em Dancin Days.
Há
muito a avançar, mas as heroínas, vilãs e mulheres comuns da ficção ajudaram a
moldar um país mais moderno e influenciaram a sociedade a ampliar o espaço da
mulher brasileira!
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