Com um público
formador de opinião, o Afrorã, através do Simpósio Afro Brasileiro realizado no
último dia 24 no Colégio Olavo Bilac, foi um sucesso de público e debateu
questões pertinentes relacionadas ao negro, como religião, cultura e combate a
violência. O simpósioteve exposição de trabalhos pedagógicos, artísticos,
roupas africanas e afro-brasileiras, oficinas pedagógicas, danças afro,
capoeira, ritmos de tambores e máscaras africanas de cerâmica. Houve mesa redonda,
com exposição e explanação dos temas Juventude negra e movimentos sociais;
Direitos Humanos e políticas públicas; Religiões de Matriz Africana no Brasil
e; A capoeira e suas estratégias de libertação.
Segundo o vereador Marcos da
Ambulância, um dos organizadores do evento, o debate da Consciência Negra
desenvolve o senso crítico, pois os alunos participam com perguntas e
questionamentos, além de aprender uma cultura, algo diferenciado na formação.
“Os estudantes do ensino médio são formadores de opinião. Ao debater cultura,
religião e violência contra o negro, abrimos sua cabeça para analisarem o mundo
de forma diferente. O negro é um ser humano igual a qualquer outro, mas é
discriminado devido à cor da pele. Várias escolas fazem trabalhos baseados no
assunto, onde trazem a tona problemas, que posteriormente contribuem para o
mecanismo de entendimento sobre a questão racial”, relata. O vereador encaminhou
um projeto de lei para o evento se repetir e ressalta que violência e racismo
contra negros podem ser denunciados junto a seu gabinete.
Uma das participantes da mesa
redonda foi a vereadora de Londrina, Elza Correia. Incisiva em suas palavras,
ela abordou a violência e os homicídios contra a população negra e afirmou que
sem politicas públicas, não haverá garantia de Direitos Humanos. “O Brasil não
respeita os Direitos Humanos, pois convivermos com dados vergonhosos. Somos um
dos países mais violentos e nascer negro é uma situação de risco”. A vereadora
citou que a desigualdade contra o negro é latente principalmente no mercado de
trabalho, onde 44 % dos jovens estão na informalidade, enquanto o percentual
atingecerca de 31, 3% dos jovens trabalhadores brancos.
Outro
participante foi o geógrafo e chefe de gabinete da vereadora Elza Correia.Ele
afirma que o dia da Consciência Negra é fundamental, concretizando como data
comemorativa e de reflexão. “A Consciência Negra festeja o dia da morte do
principal guerreiro afro brasileiro, Zumbi dos Palmares. É fundamental que todos
voltem os olhos aos negros, pois eles compõem a população do país através da
miscigenação, a qual nos orgulhamos. Assim, faremos valer o direito de todos os
povos, quebrando preconceitos e paradigmas”, relata o chefe de gabinete.
Atuante
na capoeira e nos movimentos sociais e culturais, Vanderlei Pires participou da
mesa redonda e observa que o Afrorã é a construção da crítica e valorização relacionadas
aos direitos dos negros. “O simpósio foi realizado num local onde há formadores
de opinião. Em breve haverá resultados, pois os participantes observarão
diversas situações de maneira diferente, além de haver maior entendimento sobre
as questões dos negros, principalmente nas escolas”. Há trinta anos no
movimento negro, ele diz que a capoeira emana do povo e tem vida, onde se
desenvolve a comunicação corporal e transforma o ser.
Uma das idealizadoras do evento e responsável
pela confecção das máscaras de cerâmica, a artista plástica Maria Aparecida dos
Santos atua na Fundação Cultural como ceramista. Ela cursou Educação Artística
e aprendeu o ofício na graduação. “Nas religiões africanas, como o Candomblé, o
barro e a cerâmica são representados pelo Orixá Nanã. Na história, a cerâmica foi
usada para guardar alimentos ou como arte decorativa”. Quanto ao evento, inédito
na cidade, ele representa uma luta, pois como educadora ela observa, em sala de
aula, discriminação e intolerância religiosa. “O negro esconde e não manifesta
sua cultura e religião. Quando falei com o vereador Marcos da Ambulância, disse
que o evento deveria ser numa escola, pois a educação é a base da sociedade
igualitária”, diz.
Por fim, quem encerrou o Simpósio
Afro Brasileiro foi o professor de capoeira Robson Arantes. Natural do Rio de
Janeiro e morando em Londrina, ele afirma que Ibiporã tem diversas referências
do movimento negro, além da participação dos alunos do Colégio Olavo Bilac ter
sido enorme. “A escola é à base da educação. Aqui se quebra paradigmas que julga
as religiões negras com preconceito”. Aos 36 anos, ele faz capoeira desde os
oito anos e frequenta o Candomblé desde os 15 anos, onde conheceu em
aprofundado a cultura afro brasileira. “Devido o processo histórico o negro foi
colocado numa situação inferior. Ele foi trazido à força e escravizado. A
inferiorização da sua cultura está no processo de barbárie a qual o submeteram.
Mas, recentemente houve conquistas e leis, como as que valorizam a cultura negra
nas escolas. Porém ainda existem radicais que oprimem os movimentos negros,
seja matando pessoas ou apedrejando terreiros de Candomblé, ao consideram a
religião como algo demoníaco”, finaliza.
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