sexta-feira, 20 de maio de 2016

Simpósio Afro Brasileirocomemorou o Dia da Consciência Negra e expôs questões pertinentes, como violência, liberdade de expressão cultural e religiosa. (Publicado em Nov 13 - Jornal Nossa Terra)

Com um público formador de opinião, o Afrorã, através do Simpósio Afro Brasileiro realizado no último dia 24 no Colégio Olavo Bilac, foi um sucesso de público e debateu questões pertinentes relacionadas ao negro, como religião, cultura e combate a violência. O simpósioteve exposição de trabalhos pedagógicos, artísticos, roupas africanas e afro-brasileiras, oficinas pedagógicas, danças afro, capoeira, ritmos de tambores e máscaras africanas de cerâmica. Houve mesa redonda, com exposição e explanação dos temas Juventude negra e movimentos sociais; Direitos Humanos e políticas públicas; Religiões de Matriz Africana no Brasil e; A capoeira e suas estratégias de libertação.
            Segundo o vereador Marcos da Ambulância, um dos organizadores do evento, o debate da Consciência Negra desenvolve o senso crítico, pois os alunos participam com perguntas e questionamentos, além de aprender uma cultura, algo diferenciado na formação. “Os estudantes do ensino médio são formadores de opinião. Ao debater cultura, religião e violência contra o negro, abrimos sua cabeça para analisarem o mundo de forma diferente. O negro é um ser humano igual a qualquer outro, mas é discriminado devido à cor da pele. Várias escolas fazem trabalhos baseados no assunto, onde trazem a tona problemas, que posteriormente contribuem para o mecanismo de entendimento sobre a questão racial”, relata. O vereador encaminhou um projeto de lei para o evento se repetir e ressalta que violência e racismo contra negros podem ser denunciados junto a seu gabinete.
            Uma das participantes da mesa redonda foi a vereadora de Londrina, Elza Correia. Incisiva em suas palavras, ela abordou a violência e os homicídios contra a população negra e afirmou que sem politicas públicas, não haverá garantia de Direitos Humanos. “O Brasil não respeita os Direitos Humanos, pois convivermos com dados vergonhosos. Somos um dos países mais violentos e nascer negro é uma situação de risco”. A vereadora citou que a desigualdade contra o negro é latente principalmente no mercado de trabalho, onde 44 % dos jovens estão na informalidade, enquanto o percentual atingecerca de 31, 3% dos jovens trabalhadores brancos.
Outro participante foi o geógrafo e chefe de gabinete da vereadora Elza Correia.Ele afirma que o dia da Consciência Negra é fundamental, concretizando como data comemorativa e de reflexão. “A Consciência Negra festeja o dia da morte do principal guerreiro afro brasileiro, Zumbi dos Palmares. É fundamental que todos voltem os olhos aos negros, pois eles compõem a população do país através da miscigenação, a qual nos orgulhamos. Assim, faremos valer o direito de todos os povos, quebrando preconceitos e paradigmas”, relata o chefe de gabinete.
Atuante na capoeira e nos movimentos sociais e culturais, Vanderlei Pires participou da mesa redonda e observa que o Afrorã é a construção da crítica e valorização relacionadas aos direitos dos negros. “O simpósio foi realizado num local onde há formadores de opinião. Em breve haverá resultados, pois os participantes observarão diversas situações de maneira diferente, além de haver maior entendimento sobre as questões dos negros, principalmente nas escolas”. Há trinta anos no movimento negro, ele diz que a capoeira emana do povo e tem vida, onde se desenvolve a comunicação corporal e transforma o ser.
            Uma das idealizadoras do evento e responsável pela confecção das máscaras de cerâmica, a artista plástica Maria Aparecida dos Santos atua na Fundação Cultural como ceramista. Ela cursou Educação Artística e aprendeu o ofício na graduação. “Nas religiões africanas, como o Candomblé, o barro e a cerâmica são representados pelo Orixá Nanã. Na história, a cerâmica foi usada para guardar alimentos ou como arte decorativa”. Quanto ao evento, inédito na cidade, ele representa uma luta, pois como educadora ela observa, em sala de aula, discriminação e intolerância religiosa. “O negro esconde e não manifesta sua cultura e religião. Quando falei com o vereador Marcos da Ambulância, disse que o evento deveria ser numa escola, pois a educação é a base da sociedade igualitária”, diz.

            Por fim, quem encerrou o Simpósio Afro Brasileiro foi o professor de capoeira Robson Arantes. Natural do Rio de Janeiro e morando em Londrina, ele afirma que Ibiporã tem diversas referências do movimento negro, além da participação dos alunos do Colégio Olavo Bilac ter sido enorme. “A escola é à base da educação. Aqui se quebra paradigmas que julga as religiões negras com preconceito”. Aos 36 anos, ele faz capoeira desde os oito anos e frequenta o Candomblé desde os 15 anos, onde conheceu em aprofundado a cultura afro brasileira. “Devido o processo histórico o negro foi colocado numa situação inferior. Ele foi trazido à força e escravizado. A inferiorização da sua cultura está no processo de barbárie a qual o submeteram. Mas, recentemente houve conquistas e leis, como as que valorizam a cultura negra nas escolas. Porém ainda existem radicais que oprimem os movimentos negros, seja matando pessoas ou apedrejando terreiros de Candomblé, ao consideram a religião como algo demoníaco”, finaliza. 

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