quarta-feira, 18 de maio de 2016

Público em movimento, por Aldo Moraes para o Jornal Nossa Terra de Ibiporã


No início dos anos 90, quando adentrei as salas do Centro de Estudos Supletivos em Londrina, conheci professores maravilhosos e pude compartilhar idéias próprias sobre música e literatura. Era um período de grande confusão política no Brasil e de muitas carências tecnológicas e econômicas. Mas a cultura vivia uma grande efervescência com a abertura democrática.                                   
Muita coisa mudou desde então e hoje vivemos a agitação da internet e das redes sociais em que o público interage com artistas e personalidades e também muitas vezes é convidado a colaborar com trechos de músicas, livros e filmes. A rede também é o canal onde se testa a popularidade do que vai ser depois apresentado no palco, na TV, teatro e no cinema.                                                 
A grande sacada dos tempos atuais é que o público passou a interagir com a solução e mudança de rumos em grande parte das obras culturais e do entretenimento. Um grupo de maracatu pernambucano pode ser visto numa rua em Nova Iorque ou o show de um grupo de rap americano pode ser projetado no interior do Paraná, tudo pela internet e em tempo real. Ou seja, as fronteiras da língua e dos hábitos culturais diminuíram profundamente.                                               
Mesmo um movimento de massa como uma telenovela que mobiliza milhões de pessoas, o público muda os rumos de personagens e de núcleos inteiros quando por algum motivo se desinteressa ou não concorda moralmente. Isso era impensável em décadas atrás.                                                                     
Escritores consagrados continuam na solidão do escritório criando versos e personagens imortalizados na memória afetiva do público, mas buscam experiências como a auto-colaboração pela internet.  Nesse contexto, os leitores ajudam com frases e idéias que são juntadas e participam do todo em um romance ou livro de contos.                                                                                       
Na música, orquestras européias lançam uma introdução instrumental em busca de continuidade que vem de musicistas de todas as partes do planeta. Tudo on line, através das chamadas “obras abertas”, que são finalizadas quando o sistema eletrônico se fecha e todos conferem o que vai rolar. Caetano Veloso experimentou o formato de incluir sugestões do ouvinte no CD “Zii e Zie”. As surpresas são parte do processo e o público é parte integrante em tudo.   
                                                                                                                     
Plataformas como youtube, facebook, blogs e instagram são verdadeiros veículos de comunicação ilimitados com todo tipo de assunto, onde por vezes o público interage com o artista ou utiliza o espaço para avaliar e criticar obras e produtos culturais. O espaço de experimentação chegou a bibliotecas, museus e palcos em várias partes do mundo. Se for moda ou um intervalo entre algo que ainda surgirá, temos de esperar para avaliar.                                                               
O sucesso ou fracasso momentâneo acontece todos os dias, mas como no passado todo trabalho que tem base sólida permanece e continua influenciando gerações. O que vai surgir daqui prá frente é algo que não temos domínio, mas com certeza aquelas professoras de coração e mente aberta que me receberam há 25 anos tem grande influencia na maneira espontânea com que recebo as novas tecnologias.
                                                                  
Obrigado Professoras Marilza, Lídia, Natasha e Divanir Cyrino!


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