Praticamente
ignorado pelo rádio, o público infantil voltou-se para a televisão. Mas a
memória de um tempo em que os meios de comunicação concebiam a criança como ser
criativo e velhas canções infantis ainda ecoam como sonhos perdidos em busca de
um lugar. Quem não se lembra de:
“O
cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada. O cravo saiu ferido e a rosa
despedaçada” (folclórica)
“Era
uma casa muito engraçada. Não tinha teto, não tinha nada. Ninguém podia entrar
nela não, porque a casa não tinha chão” (Vinicius de Moraes/Toquinho)
“Vem
meu ursinho querido, meu companheirinho, ursinho pimpão. Vamos sonhar
aventuras, voar nas alturas da imaginação” (T. Landa/T. Cruz e imortalizada
pela turma do Balão Mágico)
São
músicas de várias épocas e estilos em que a canção de roda, a valsa e ritmos
mais modernos faziam parte do cotidiano de nossas crianças. Pela TV ou rádio,
podiam-se ouvir histórias e canções que extrapolavam o universo infantil e eram
populares para todas as idades. Atualmente a produção das rádios e TVs
praticamente esqueceram que existe um público entre o jovem e o adulto e que
houve um tempo no qual profissionais se dedicavam às crianças em trabalhos que
demandavam suor e criatividade.
Os
anos 70, por exemplo, levaram as crianças a bordo da nave mágica do “pó de
pirlimpimpim” e junto com os moradores do Sítio do Pica Pau Amarelo, as rádios
executavam canções de Guilherme Arantes, Paulo Leminski, Moraes Moreira, Ângela
Rô Rô e Dori Caymmi baseadas na imortal obra de Monteiro Lobato. A inserção de
personagens como o Minotauro, a Cuca, o Saci e Peter Pan apresentavam
referências da história grega e do folclore brasileiro às nossas crianças.
Nos
anos 80 a criatividade do diretor Augusto César Vanucci trouxe a idéia dos
Especiais Infantis como “Plunct Plact Zum” e “Arca de Noé”. Um roqueiro como
Raul Seixas deu voz ao “Carimbador Maluco” que abria o programa e autorizava a
viagem pelo espaço.
Em
nossa região, Tia Lucy apresentava ao vivo o programa que deu espaço a crianças
para comunicação e interação com o público, sempre aos domingos. Era também um
tempo em que a figura do palhaço era muito popular e o inesquecível Picolino
era conhecido e amado pelas crianças.
Tudo
que era feito na TV e no cinema como o Sítio, os Trapalhões, o Balão Mágico e
os especiais infantis se transformavam em canções e discos que os pais podiam
desfrutar junto com seus filhos.
As
canções além do lazer são sempre temas de conversas para a educação social,
cultural e ambiental em qualquer idade. A canção infantil tem o poder de
mobilizar pais e educadores para uma conversa prazerosa e lúdica acerca de
aspectos importantes da vida diária e do futuro a ser construído pelos
pequenos.
No
Brasil temos uma produção significativa voltada ao público infantil, mas que desde
os anos 90 tem diminuído. Villa Lobos, Jorge Antunes, Caetano Veloso, Gilberto
Gil e Chico Buarque contribuíram bastante para o repertório infantil. Um grande
destaque nas últimas décadas é o trabalho de Sandra Perez e Paulo Tatit com o
grupo “Palavra Cantada” e que sempre tem a colaboração de Carlinhos Brown e
Arnaldo Antunes. É música infantil de alta qualidade para as crianças e papais
de hoje em dia!