Sonho em ver ali, onde está plantada a linha férrea, um eixão no sentido Leste-Oeste, em mão dupla, separada por um canteiro central, bem sinalizado, sem quebra-molas, com início na altura do Conjunto Habitacional Caluana até o Jardim Santa Paula e com perspectiva de prolongamento. Temos um exemplo, a Via Expressa em Londrina.
Afinal, qual o benefício que o trem oferece a cidade? O que ele nos apresenta de positivo e negativo?
De positivo, apenas a lembrança saudosista dos idos da colonização, a partir de 1936, quando às 14hs30, o trem se aproximava com seu estridente apito, sempre trazendo gente nova. Centenas de pessoas corriam à estação para ver o trem chegar, esperando receber a visita de algum parente, que só conhecia o lugarejo através de notícias. Era um verdadeiro formigueiro humano. A cada chegada, mais e mais pioneiros, ávidos por encontrar, neste paraíso, terra para plantar café e criar sua prole.
Que saudades da pensão do Indalécio Teixeira, da Dona Santa, do Landioso, o bar do André Sert, da venda do Zé da Silva Sá! Todos localizados pertinho da estação e pontos de referencia a quem chegava.
As serrarias Carlos Seco, a Lugô & Cia. e Carlos de Almeida, à margem da Rua Esplanada (atual São Vicente de Paula), desempenharam papel social assaz importante, como o primeiro emprego ao trabalhador braçal, que não possuía profissão ou destino definido.
A linha férrea foi construída entre os anos 1934/1936, com muita dificuldade, pois todo o serviço de aterro foi realizado com o auxilio de carrocinhas tracionadas por burros. Dezenas delas eram vistas dia-após-dia nessa faina estafante. A família Sanches que no diga. A colocação das linhas e dos dormentes, feita de maneira artesanal, exigiu força hercúlea e vontade dos que ali estavam.
Finalmente, nos idos de 1936, o trem começou a circular, passando por Ibiporã. Os corações palpitavam e era uma festa quando o mostro de ferro, com seu apito estridente chegava à estação.
Entretanto, hoje o trem oferece inúmeras inconveniências: daqui não se leva e nem deixa nada na estação, que há tempos encontra-se desativada. O que nos resta é a poluição sonora e ambiental.
Dividindo a cidade ao meio, a linha de trem a classifica da seguinte forma: acima e abaixo da linha. Os imóveis localizados na parte inferior têm seus valores achatados e tachados pejorativamente de abaixo da linha, embora conste nas escrituras que o mesmo se localiza na área central, como pode ser constatado no Jardim Semprebom e Ouro Verde.
As três locomotivas que tracionam 39 vagões, vibram tudo por onde passam, resultando em rachaduras nas construções localizadas as margens. Isso provoca sérios transtornos, interceptando a passagem de veículos que tem urgência em cumprir suas tarefas mormente na área de saúde ou segurança, como os bombeiros e a polícia. Com isso, é atravancado o progresso de Ibiporã: o bombeiro pára e o fogo extermina tudo. A viatura policia pára e o bandido foge. A ambulância pára e o enfermo corre risco de morte.
Outros males podem ser enumerados: o barulho causado, sobretudo no período noturno; o matagal que cresce às margens da linha e deixa feia a cidade, além de proliferar a fedentina de cães, gatos, cavalos e outros animais mortos.
O mais grave, porém, é o grande número de pessoas que perderam a vida ao tentarem atravessar a linha férrea. Constantemente cidadãos são vitimados e mortos, enquanto as autoridades, passivamente, vêem aumentar as estatísticas, sem nada fazerem.
Há de se consideram ainda os descarrilamentos ávidos em vários pontos, muitas vezes transportando combustíveis inflamáveis, oferecendo grande perigo e ameaçando seriamente as casas situadas ás margens da linha férrea.
É válido citar que nossas críticas vêm acompanhadas da seguinte sugestão, que redundaria num grande benefício, justificando a continuidade da circulação dos trens no perímetro urbano, não só de Ibiporã, mas também das demais cidades metropolitanas de Londrina: fazer com que o trem volte a operar no transporte de passageiros entre as cidades de Jataizinho a Rolândia.
Dito meio de transporte, propiciaria à inclusão desse serviço no roteiro turístico, enriquecendo e embelezando grandemente a região. Ao mesmo tempo ofereceria excelente e relaxante meio de transporte e lazer, desafogando consideravelmente o tráfego da rodovia, com menos coletivos e carros trafegando. Destacamos, sobretudo, as oportunidades de novos empregos, que, indubitavelmente surgiriam.
Exploração turística idêntica verifica-se em várias regiões brasileiras: Bento Gonçalves-Garibaldi (RS), Ouro Preto-Mariana (MG), São João Del Rei-Tiradentes (MG).
Não havendo interesse por parte da ALL (América Latina Logística) em operar o transporte de passageiros, o trem passaria a ser considerado indesejado, e como tal, devendo ser translado para bem distante da cidade.
Onde está situada a linha, seria construída uma moderna via de mão-dupla, cuja denominação até poderia ser Avenida do Café, em cujo canteiro central seria cultivados cafeeiros na técnica adensada, devidamente adubado e até irrigado. O café é o símbolo vivo da era “Ouro Verde”, grande riqueza responsável pelo progresso da região e do Estado. Além disso, a dita via desafogaria o tráfego de veículos nas avenidas Paraná, Santos Dumont e Mário de Menezes.
Faz-se mister que nossos políticos coesos, em todas as esferas, como senadores, deputados, prefeitos e vereadores, interfiram junto ao Ministério dos Transportes, sobretudo quando se tratam em propiciar geração de empregos, chavão tão propalado ás vésperas das eleições.
A comunidade deve reagir coesa, participando de todas as formas possíveis: com abaixo-assinados, ofícios, passeatas, e em última instancia, bloqueando a passagem desse assassino, que, impunemente tantas vidas preciosas têm ceifado e não menos obstáculos ao desenvolvimento da cidade vêm criando.
O gigante que passa roubando nosso sono, segurança e paz, precisa ser vencido, pois ele é mesmo um “TREM”.
Maurício Fernandes Leonardo - Ibiporã
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