Com uma história diferente de muitos artistas brasileiros, a ex-lavadeira engajou-se nas causas políticas, sofreu preconceitos e vivenciou as dificuldades encontradas por diversos negros.
Preocupados com problemas de cunho social, como a exclusão, os organizadores do FILO (Festival Internacional de Londrina), trouxeram os artistas mineiros Carlos Afro (coreógrafo) e Guda (percussionista) ao ponto de Cultura do Centro de Produtores Independentes de Arte e Cultura (CEPIAC), a fim de montar um espetáculo com coreografias e músicas para a Cia. de Cristais, do CEPIAC, tendo como base as composições gravadas por Elza Soares. “O objetivo é promover o conhecimento, a divulgação e a inserção de valores da cultura africana e afro-brasileira no sistema social”, afirma Guda.
A apresentação, no último dia 19, na Concha Acústica, teve quadros criados especialmente para a montagem, a partir de músicas pré-selecionadas e com roteiro fundamento historicamente e inspirado nas danças populares de raízes africanas e afro-brasileiras.
O percussionista lembra que Elza é uma artista de expressividade. Ela vem do morro e demonstra, através da música, as dificuldades do negro, como na letra de “Carne”, onde se aborda a desvalorização do trabalho negro.
Há sete anos FILO e trabalhado com a vanguarda do “Clube da Esquina” (ponto de encontro entre artistas de Belo Horizonte – MG), Guda notou que a percussão, aliada a dança, obtêm melhores resultados dos alunos. “A cantiga de roda nos traz energia positiva e cíclica, onde todos se envolvem num ritmo comum. São elementos de cunho africano”, diz.
Pesquisador do samba e das músicas que embalam a capoeira (congado e maculelê), engajado em projetos sociais, onde os alunos da rede pública estão envolvidos, o percussionista inova ao trabalhar o movimento da música com o pandeiro, timba, caixa de bateria e outros. ”Música e dança é a mesma coisa para os africanos. Eles sentem a pulsação através dos ritmos”, salienta
Atuante no Movimento Negro, Guda nota que o preconceito e a discriminação hoje são menores, do que há vinte anos atrás. Mas isso não foi ao acaso. “Os atores da periferia tem representatividade e ocupam diversos espaços na política, esporte e cultura. Mais isso é pouco. Devemos criar consciência do papel social”, argumenta.
Com um trabalho simples, mas com muita honestidade e pesquisa, Guda deixa a seguinte mensagem aos leitores do Cincão Notícias: “O sofrimento do negro é grande e não devemos ser contrários a medidas de inclusão, como as cotas, por exemplo. O cidadão deve criar consciência que a cultura e suas manifestações estão inseridas na alma do povo. A leitura e o estudo são essências, não somente aos negros, mas a todos, para haver conhecimento quanto a nossa história, direitos, constituição e lutas, para assim existir discussões mais abrangentes”, finaliza.
Marcelo Souto
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