Alfabetizando Londrina muda a vida de pessoas que nem conseguiam ler o itinerário dos ônibus.
Se você lê esta reportagem, provavelmente não imagina o quanto deve ser difícil não saber juntar as letras e dar sentido à frase. Seria como chegar a um ponto de ônibus no Afeganistão ou na China se deparar com placas que nada significam. Era assim a vida de Francisca da Silva Milani, do Semíramis Braga, até pouco tempo atrás.
Dona Francisca chegou a pegar ônibus errado porque não sabia ler. Até decorou os números, mas nem sempre dava certo. Conta que uma vez ficou tão nervosa por ter se enganado que até chorou no ponto. Para tomar remédios, pedia ajuda do marido que lia a bula e a informava o horário certo de tomar a medicação.
Mas nem foram essas as dificuldades que a motivaram a se alfabetizar. Muito religiosa, queria ler a Bíblia e "passar a palavra de Deus adiante." E deu os primeiros passos. Matriculou-se numa turma do programa Alfabetizando Londrina (Allo), no Centro Social Marista.
Na mesma classe, a diarista Vera Helena Pereira Cruz, do José Belinati. Ela não teve oportunidade de estudar quando mais jovem porque a escola ficava muito longe de casa e precisava trabalhar. Hoje, mãe de três filhos, acredita que o estudo é essencial na vida das crianças e se esforça para ler e escrever. Assim conseguirá uma chance melhor no mercado de trabalho.
Bem-humorada, lembra-se de quando alguém pedia para anotar um recado e não sabia escrever, "guardava tudo na cabeça". Agora nem precisa mais exigir tanto da memória.
Doze filhos, 35 netos e nove bisnetos. Família constituída, dona Ana Pimenta, do Violin, encontrou um tempo para realizar o sonho adiado durante quase toda vida: estudar. Na adolescência, foi impedida de ir à escola pelos pais que eram muito conservadores.
Marilda de Souza Emereciano, até teve a oportunidade de se alfabetizar quando criança, mas largou os estudos com medo da professora. "Eu apanhava de vara de marmelo se não respondesse direito", diz, acompanhada da irmã Maria do Carmo.
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