O crack era minha inspiração. Com ele me levantava e com ele dormia. Conforme os assaltos rendiam dinheiro, ficava mais viciado e comecei a usar cocaína. Num dia inesperado um amigo, que trabalha como office-boy, disse que sua empresa iria despachar um malote com trinta mil reais. Era para ficarmos atentos, pois os seguranças da empresa andavam armados. Tínhamos que conseguir armas em caso de tiroteio. Contatei meu comparsa, o Alexandre, que se prontificou a ajudar na empreita. Ele entraria na empresa com uma pistola Ponto 40. Roubamos uma moto Twister da cor preta, comprei um trezoitão por R$500 e emprestei dois coletes à prova de balas.
Alexandre era o estereótipo de bandido no qual muitos sonhavam em ser um dia: jovem, forte, corajoso e sagaz. Muito respeitado no mundo do crime ostentava no currículo assaltos a mercados, farmácias e postos de combustível. Era amasiado e tinha uma filha de dois anos. Aceitou o convite porque precisava "pinar". Alguns investigadores da polícia estavam atrás dele e quase o levaram em "cana" por ter dado dois tiros no vigia dum mercado. Embora experientes, iríamos entrar em uma nova modalidade do crime: assalto a malotes. Quem sabe um dia não formaríamos uma quadrilha especializada em assalto a bancos?
Quando ia ligar a moto partindo para a ação, pensei, entre diversas coisas em me aposentar. No crime se morre cedo ou logo a penitênciária é o seu destino. Podia ganhar "a boa", montar meu negócio próprio e ser empresário. Seria o gerente da "boca de fumo" onde haveriam diversas drogas. Quem sabe uma sorveteira. Lá os clientes entrariam para tomar cerveja e cheirar cocaína. Se alguém se metesse comigo ou fosse atrás de confusão daria muitos tiros para o ar. Com o respeito adquirido e o dinheiro lucrado com as drogas montaria um prostíbulo num grande sobrado. Comeria todas as putas e ia cheirar cocaína nas costas delas, igual a um filme nacional que assisti de madrugada na TV. Como num fade as imagens mudaram e vi Lúcia, uma adolescente sem maldade passando em frente a minha casa. Evitava-a para não corromper sua inocência pois minha cabeça só servia para arquitetar ações e planos cada vez mais ousados e perigosos.
Liguei a moto e Alexandre confirmou com o boy que o malote estaria embaixo da mesa do gerente, um senhor calvo, gordo, de bigode e óculos com aros pretos. Ela ficava no fim do corredor da sala principal. Não tinha como errar. Quanto ao rateio do assalto, ficaria assim: deveríamos "rachar" com o boy em cinco mil, já que ele deu a "letra" do assalto e não ia "caguetar". Eu e Alexandre ficaríamos com o restante. Nunca atirei em ninguém, apesar de ter praticado assalto a mão armada num posto de combustível. Esse crime, conforme o Código Penal é classificado e qualificado como 157.
Continua...
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