Acreditei nas palavras do Maluco e dei umas "bolas". Somente com um trago minha visão ficou turva e meus olhos vermelhos. O efeito era uma mistura de fraqueza, alucinações, náuseas e tontura. Á noite, em minha cama, meus sonhos consistiam em viagens alucinógenas onde flutuava e voava. No outro dia a ansiedade era tanta que nem esperei Lúcia passar em frente a minha casa. Arrumei um "camelo", furtei uma farmácia e rumei em direção a casa do Maluco para comprar mais droga. Ele disse que não tinha, mas podia ir na favela buscar o tanto que agüentassemos fumar. Não pensei duas vezes. Joguei vinte reais em sua mão, ele montou na bicicleta e em menos de quinze minutos estava de volta com o fumo. Aquele dia foi especial para mim, pois fumamos maconha o dia todo. Ao chegar à minha residência, meus familiares estranharam os olhos vermelhos e marejados. Perguntaram o porquê do agir estranho. Não respondi e fui para o quarto. Deitei em minha cama e sonhei que dirigia um carro novo importado. Num restaurante pedi whisky escocês, ao estilo caubói, que engoli num trago. O garçom se aproximou com uma bandeja: nela minha cabeça decepada e ensangüentada. Meus olhos eram servidos em espetos de madeira. Ao olhar para o garçom, vi um esqueleto que sorria para mim como um convite a morte. Acordei assustado e suado. Voltei a dormir para esquecer o pesadelo. De manhã peguei a maconha que sobrou, enrolei um "baseado" e comecei a fumar no quintal de casa. Por azar passava uma viatura da polícia na rua. A polícia, desconfiada com o cheiro estranho que vinha de casa parou. Assustei-me com o barulho. Era suspeito de praticar assaltos, imagine agora que era usuário de drogas. Bateram palmas e fui atender. No interrogatório neguei até o fim que praticava alguma atividade ilícita.
- Onde já se viu! Fumar maconha não é coisa de gente direita. Quem faz isso são os desocupados.
Podia ser preso, por isso fiquei com muito medo. Mas acreditam em mim e foram embora. Só foi a viatura virar a esquina que lá estava eu acendendo o "baseado" e dando risadas com o papo para o ar por ter os enganado. Após o episódio dramático saí em busca de mais droga. Cheguei numa rodinha e perguntei pelo Maluco. O Moraes, um carinha que usava um gorro, disse que ele foi preso durante a noite numa tentativa frustrada de assalto a uma loja de móveis.
- Estávamos em dois grupos. O primeiro grupo fugiu por um matagal e o segundo, no qual o Maluco estava, saiu por uma rua deserta. Porém foram abordados pela polícia que efetuou vários disparos. Três deles acertaram as costas do nosso amigo que agora está na UTI. Ele pode morrer a qualquer momento...
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