domingo, 23 de outubro de 2016

Museu preserva a história de Jataizinho


Formado em História pela Universidade Estadual de Maringá, Alysson Meyer de Lima é curador do Museu há três anos. Com amplo conhecimento da história local, ele cita que o espaço é dividido cronologicamente desde a colonização com a Colônia Militar e Aldeamento de São Pedro de Alcântara e há itens do período como cacos de cerâmica indígenas datadas de 1850. Nesta época houve a Guerra do Paraguai (1864-1870) e Jataizinho era entreposto militar que alojava munições, armas, remédios e alimentos mandados para as batalhas do Mato Grosso. O Paraná era emancipado de São Paulo, mas regido pelo Império. Para enriquecer a história, o espaço tem moedas, balas de canhão, espadas, machados de pedra, lamparina, alicate e documentos duma época em que a maioria dos habitantes era formada de escravos e indígenas. “A Colônia Militar ficava do outro lado do rio, em Ibiporã. A atual Jataizinho era o aldeamento e o território da cidade era extenso, havendo apenas ela e São Jerônimo da Serra no Norte Paranaense e Campo Mourão a oeste. Eram terras desabitadas, mas antes povoadas por Caiuás  e Guaranis”, cita Alysson Meyer.              
Numa segunda sala do museu se conta a história religiosa do município a partir de Frei Timóteo, fundador da colônia, líder político e religioso que era italiano e denominado Capuchinho. Ele viveu na região de 1855 até seu falecimento em 1895. Também há peças do padre José Cerdan, um dos principais párocos que ficou mais de 25 anos na igreja. Alysson cita que a Colônia tinha caráter militar e religioso.                                                   
O corredor do museu ilustra a história política desde a emancipação em 1947, com a galeria de todos os prefeitos, desde José Moraes Neves a Élio Batista. Nesta galeria cita-se que Jataizinho teve duas emancipações: Em 1929 era a Colônia Militar de Jatay em homenagem as abelhas que faziam colméias nas arvores de Jatobá. Mas, em 1938 foi rebaixada por Manoel Ribas a condição de vila de Assaí. Segundo Alysson Meyer, isto foi uma vingança política devido à inimizade com os mandatários locais da época, o farmacêutico e líder político Osvaldo Ramalho. Era o período da ditadura do Getulio Vargas e Ramalho não o apoiava. No entanto, o fato justificou-se na baixa arrecadação e o pequeno crescimento populacional. “Assaí tinha o mesmo tamanho de Jataizinho. Mesmo com olarias, plantações de algodão, produção e venda da carne de porco, não havia o porquê da retaliação. Com o surgimento de Jatay em Goiás, em 1943 mudou-se o nome para Jataizinho e o município emancipou-se em 10 de outubro de 1947”, recorda. Mesmo com a independência de Assai, em 1955, quando se completou os 100 anos da cidade, houve um movimento buscava as origens e valores históricos, liderado por João Martins Dutra, vereador e cartorário que propôs a mudança para o nome Jatay de Alcântara em homenagem a Dom Pedro II. Isto não aconteceu e a população reclamou, justificando que o nome atual é diminutivo e inferioriza a cidade. 
O museu também relata a história da ponte, da estação de trem, da balsa e das cerâmicas, a primeira indústria local e algo que vem desde Frei Timóteo. Há também um espaço dedicado as famílias tradicionais e que expõe objetos de uso urbano e rural cotidiano como rádios, cortador de cabelo, toca disco e documentos que relatam histórias de pioneiros, como por exemplo, um salvo conduto, uma permissão para circular no país. Para incrementar a galeria, há folders com histórias de pioneiros como Benedito Furlan e Benito Galli, ainda vivos e personagens da Folha de Jataizinho em edições passadas. Muitas escolas visitam o museu numa espécie de aula de historia, algo importante na formação educacional e que propicia ao aluno conhecer o passado, além de ser comum a identificação de antepassados.                                      
Quanto à casa que hospeda o museu, há uma lenda que Dom Pedro II veio a Jataizinho e se hospedou nela. No entanto não há documentos que confirmem isto. Segundo Alysson Meyer, o imóvel foi construído em 1935 e a suposta visita ocorreu em 1855, por conta da doação das imagens de São Pedro de Alcântara e da Nossa Senhora da Imaculada Conceição, além dos sinos da igreja. “São Pedro de Alcântara era o padroeiro do aldeamento e Dom Pedro II seu devoto. Com a doação da imagem da Nossa Senhora da Imaculada Conceição pela Princesa Isabel, ela tornou-se padroeira. Muitos não crêem que Dom Pedro II ficou na casa, mas a construção data 44 anos após sua morte”, relata. Quanto ao imóvel, de 81 anos e todo em peroba, seu primeiro dono foi Joacir Palhano, agrimensor e engenheiro que viveu nela por dez anos. Posteriormente foi vendido para Domingos Diana, ex-proprietário da cerâmica em frente ao imóvel e que hoje se chama Cerâmica Douro. Ele morou 30 anos na casa e nos anos 70 a vendeu para Esmeralda Vieira, que viveu ali até falecer.              

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