Aparecido Marcolino, Cacique Caingáng da Reserva Indígena do Apucaraninha, diz que a cultura de sua etnia perdeu muitos valores devido a inserção dos indígenas na sociedade capitalista e por estarem civilizados.
"Hoje trabalhamos com a agricultura. Na cultura indígena, o nativo caiu bastante porque chegou muita gente da sociedade não índia e se misturaram. Mas, existem alguns que tentam resgatar os antigos valores. Sou um deles e coordeno um grupo que reconquistou muito do que se perdeu com a ruptura das tradições."
Para Marcolino, ser caingang é o mesmo que ser uma tribo. O significado desta palavra é muito valioso para os índios.
"Nossa tribo é a dos Índios Coroados devido o corte de cabelo, mas para nós, caingang é o sentido da etnia na linguagem indígena. Se vejo um Guarani, na minha linguagem falo que aquele é Caingang, o mesmo que índio. Tenho muito orgulho da minha origem e dos meus ancestrais. Não tenho vergonha de ser alguém. Tenho orgulho de ser índio."
Essa afirmação torna-se mais contundente com o resgate da cultura, que está presente na oralidade e é repassado aos mais jovens, que aprendem o que se deve fazer em cada situação. "Passamos para as crianças também. Esse é um processo de afirmação da cultura, que inclue a apresentação das crianças indígenas. Apesar da interação com o mundo exterior, elas se comunicam com maior facilidade. Isso é bom", comenta o cacique.
Em relação a agricultura, ele afirma que ela mudou muito, sendo obrigados a incorporam as novas tecnologias, modos de plantio e espécies que não fazem parte de seu cotidiano. "A fartura que existia há anos atrás não exitem mais, como a caça e a pesca, que aos poucos se esvai. O que restou é a exploração das terras pela agricultura com o plantio de arroz, feijão, mandioca e milho. A soja ainda não faz parte da nossa cultura, porém estamos aprendendo com as novas tecnologias. Temos que nos adaptar para aumentar a produção".
Questionado sobre a relação dos indígenas com a soja, Marcolino disse que ela é uma cultura que não está incorporada, mas que pretendem cultivá-la. "Temos pessoas das aldeias que estão na universidade. Eles estudam para aprender. Quem sabe daqui a alguns anos chegamos lá".
Como era de se esperar, Marcolino abordou uma questão muito importante: os conflitos de terras. Em relação ao tratamento desta questão, ele disse:
"Quando alguém me faz uma pergunta dessa fico pensando. Pelas leis, fizeram um decreto, em 1775, que somos índios. Agora estão sendo esses invasores favoráveis a esse decreto de 1775. Vamos supor que um índio invada essas terras. Ele está invadindo o que o dele, mas só que o indio não faz esse tipo de coisa. Estamos tentando descobrir o que já foi perdido e o que perdemos. Quem sabe daqui alguns anos, vamos resgatar o que nos foi sequestrado. Hoje os índios não são iguais como os de antigamente. Muitos frequentam a universidade e entraram na política. Conhecemos as leis e lutamos pelo nosso povo", finaliza.
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