Há 29 anos João Teixeira (77) é poceiro. Confiante no seu
trabalho, com um galho de amora ou goiaba ele localiza água e só de olhar diz a
profundidade necessária de perfuração. “Muitos duvidam, mas meu aparelho é a natureza”,
cita o poceiro que trabalhava como ajudante. Como a função de auxiliar lhe
dava poucos ganhos, com um ano de experiência e morando em Cambé ele se engajou
na profissão.
Entre
suas recordações está a de um antigo patrão que precisava de água num terreno,
mas não sabia como a explorar. O poceiro, que afirma ter um “dom dado por
Deus”, localizou água e fez o poço entijolado de seis metros, algo que ajudou muito
o patrão. A confiança no galho de amora é tamanha, que ele já perfurou mais de
700 poços, foi levado para diversas cidades do Paraná e até ao Estado de São
Paulo para executar o trabalho. “Minha técnica é assim: de onde estou o galho
começa a ser atraído por uma força magnética. Conforme me aproximo do veio d
água o galho torce mais e gira igual a uma corda. A quantidade de voltas
determina a profundidade. O galho de amoreira é 100% eficaz”, diz o poceiro,
que cobra cem reais para fazer o trabalho de localização. “Se não achar devolvo
o dinheiro”, relata João Teixeira, que nunca precisou fazer isto.
A
profissão na qual ele admira ser respeitado é perigosa e por algum descuido
pode causar morte por desmoronamento, problemas respiratórios ou acidentes com
pedras. Este último até hoje marca a vida de João Teixeira, que ao perfurar um
poço na região do Jacutinga, cortou a veia da perna. “Com uma marreta de cinco
quilos eu quebrava uma rocha de uns 120 quilos. Ela ficou menor, do tamanho de
uma bola de capotão. Foi neste instante que uma farpa, afiada como navalha
cortou minha perna. Ensanguentado fui levado ao Hospital Cristo Rei de Ibiporã
e posteriormente ao HU em Londrina, onde fiquei sete dias internado”, recorda.
Muitos
duvidam e desrespeitam seu trabalho, como no caso de um turco. Ele cita que um
empresário fez uma caldeira, queria usar água de poço mas não sabia se havia água
no terreno de 800 metros. Com a amoreira o poceiro localizou água a 17 metros de
profundidade. “Em meio ao trabalho um turco foi até nós e perguntou se íamos cavar
fossa. Disse que era um poço e ele riu da minha cara. Quando estava a oito
metros de profundidade ele pediu água, mas com zombaria e não acreditando no
trabalho. Mas ao descer em 15 metros o poço aflorou e quando a água estava na
altura do meu pescoço começamos a entijolar”, relata. No outro dia ele
providenciou quatro tambores de 200 litros, encheu de água, mandou chamar o turco
e disse: “Você pediu água. Fique a vontade, pode beber os quatro tambores”, disse.
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