Dito
Campeiro viveu o período da geada negra e do bicudo no algodão e
hoje, aos 76 anos se dedica a produção de queijo.
Benedito
Gonçalves Duque, o popular Dito Campeiro e a esposa Petronilia
Filgueiras Duque, são remanescentes da época de ouro do Norte do
Paraná e representam a identidade cultural da região, ao
personificarem o homem do campo. Vindos da região de Juiz de Fora
para a Água da Floresta, em 2 de fevereiro de 1959, a família
arrentou terras para cultivar café.
Enquanto
Benedito cultivava a terra, Petronilia tomou um caminho diferente ao
se tornar professora das séries iniciais de 1963 até os dias
atuais, sendo obrigada a se aposentar devido ter alcançado os 70
anos. Ela conta que o prefeito da época, Dionísio Stricker, não
tinha quem lecionasse para as crianças na Seção Coqueiro e, por
conta disto, se ofereceu para a função. No outro dia, 45 alunos
estavam na sala de aula. Ela lecionou por dois anos. Após isto, foi
para a Água da Floresta, onde atuou até 1993 e se aposentou. Porém,
a Secretaria de Educação pediu que continuasse, pois era difícil
enviar professores de Urai para a região rural. Com o desmanche da
escola, em 2002, os alunos foram transferidos para área urbana e
Petronilia foi deslocada para Serra Morena, onde trabalhou na creche
até julho deste ano. “A mudança dos alunos para a escola da área
urbana ocorreu devido à diminuição da população rural. De um
lado, na cidade há mais recursos, como informática e teatro. Mas,
vemos problemas por dependerem do ônibus, que estraga com
frequência, principalmente em dias de chuva, gerando faltas.
Com
experiência no café e algodão, Dito Campeiro cita que as culturas
foram extintas por conta de doenças e clima. “O café foi afetado
pela ferrugem e a geada negra em 1975. Lembro como se fosse ontem o
famigerado 18 de julho. Havia chovido e ao vender café e comprar
sacos para armazená-lo, o comprador orientou para não ensacar o
produto devido à umidade. Ao voltar para a propriedade, também ouvi
o rádio dizer para não vender o café. Acreditava-se que preço e
lucro iriam aumentar. Porém, devido a forte geada da noite, a
lavoura amanheceu branca. O preço do café estabilizou e quem devia
no banco amargou prejuízos, pela aumento dos juros. Abandonou-se o
café e se iniciou o plantio do algodão, cultura que ajudou muitos a
retomarem os negócios”, afirma Dito Campeiro. Tamanha era a
quantidade plantada, que o algodão competia com plantações mais
simples, como a abóbora.
Com
a disseminação da cultura, vieram novas pragas e doenças, como o ácaro, a ferrugem e o bicudo, este último, arrasou plantações.
“Plantava-se o algodão. Ele crescia e ficava bonito, mas devido o
bicudo, caia. Não havia veneno para combater a praga. Muitos tiveram
prejuízos e a soja foi a solução a quem persistiu ficar no campo.
Os primeiros trabalhos eram manuais, desde o plantio, colheita e
preparo para venda. Tamanha foi a evolução da soja, que ela
predomina na região”, recorda Dito Capeiro.
Como
muitos que vieram em busca de terras no Norte do Paraná, ele viu
diversas transformações, de 1959 a 2014, como a evolução das
máquinas, o ciclo do café, algodão e da soja, além de ver
produtores de café e algodão perderem dinheiro. Vivenciou Assai
como a Capital do Algodão e Londrina a Capital do Café.
Mantendo
a rotina, todos os dias acorda às cinco e meia da manhã para
retirar leite das vacas que cria. Produto que não é comercializado,
mas usado na produção de queijo. “Possuía uma linha de leite e o
recolhia nas propriedades da região, com uma caminhonete e entregava
no antigo laticínio Estrela, em Ibiporã, cerca de 2500 litros de
leite por dia”, afirma.
Além
de vacas, ele cria bois, galinhas e porcos, além de ser aposentado e
ter dois fuscas, um 1973 e outro 1994, no qual utiliza para ir à
missa na Água do Coqueiro. “Com o declínio da agricultura manual,
aliado ao êxodo rural, as famílias foram para a cidade. Sou um dos
últimos remanescentes. A região era povoada e havia comércios e
igrejas, além de famílias que cultivavam, como proprietários ou
arrendatários, propriedade de dois a três alqueires. Quem tinha 10
alqueires possuía muita terra. A geada negra tirou muitos do campo e
os empurrou para novas fronteiras agrícolas, como oeste do Paraná,
Mato Grosso, Paraguai e Rondônia. Os que tinham recursos ficaram e
migraram para o algodão”, finaliza.
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