A casa de Alice dos Santos
é repleta de plantas exuberantes e pequenas criações de galinhas e cães. Vivendo
com os filhos Elias e Lázaro dos Santos, ela nasceu em 18 de dezembro de 1928,
foi casada com Francisco dos Santos e tiveram os filhos Antônio, Maria Eunice,
Bendita, Gonçalo, Lázaro, Elias, Benedita e Maria Aparecida.
Aos
sete anos veio de Cornélio Procópio com a família, onde “abriram” a cidade para
o café. Por conta dos fortes ventos e o clima frio se mudaram para Jataizinho.
“Ao chegar deparamo-nos com aldeias indígenas e casas de pau a pique cobertas
de sapê. Os índios participavam das festas religiosas adornados de penas e com arcos
e flechas. Não havia violência e os ranchos de palmito ficavam abertos, sem
risco de furto ou roubo. Tamanha era a quantidade de palmito, que usávamos a
madeira para fazer casas e chiqueiros. A parte comestível vendíamos no hotel do
João Manfrinato, que funcionava ao lado da atual Igreja Imaculada Conceição”,
recorda.
No
terreno onde vive há mais de oitenta anos nasceram os filhos, o prefeito da
época, Manoel Nowisky, vendo o crescimento de seus irmãos fez a casa de madeira
para ajudar o pai de Alice, que trabalhava na linha de trem e posteriormente atuou
na prefeitura com Antônio Brandão, antes de ser prefeito. A construção ultrapassa
60 anos. Com
saudosismo ela se lembra do matadouro Jacob Pansardi, administrado por Joaquim
Venâncio e localizado em frente a sua casa. Onde fica o Hospital São Camilo e o
Maria Júlia eram partes do matadouro. “As boiadas e os tropeiros vinham pela
Rua Benjamin Javarina. Existiam inúmeros comércios e quando não havia trabalho
na roça, junto com outras mulheres trazíamos na cabeça latas de vinte litros de
água, vendidas a um cruzeiro. Oriunda do poço artesiano da Serraria Velha ou na
mina do Joaquim Venâncio, este, quando nos via com os baldes ficava bravo e
corria atrás de nós”, recorda aos risos.
Outra
lembrança foram os diversos açougueiros que trabalhavam no matadouro, tendo na
memória os apelidos de Lauro Mendes, Baiano (seu cunhado), Baianinho, Biju e Zé
Soldado, este último boiadeiro. “Amarrava a corda no pescoço do boi para o abate
com golpes na nuca. Com ele morto tirava e lavava a barrigada e as tripas para
fazer lingüiça. Fervia a gordura no tacho do fogo a lenha, misturando palma e palha
de milho no intuito de fazer sabão. Criávamos porcos e cabritos. A alegria das
crianças na época era comer buchinho de porco assado, cozido, frito e recheado”,
relembra.
Nestes oitenta anos Alice
viu a sua rua, antes um carreador, se transformar em paralelepípedo. Os ranchos
de pau a pique cobertos de sape viraram casas de madeira e depois alvenaria.
Tudo está fresco na memória, como o sabão de soda, a água em baldes a um
cruzeiro, a lenha e o machado, a colheita do algodão, o matadouro e a quebra do
milho.
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