Assim são os alunos da professora Claudeth Abel, de 31 anos e acadêmica de Pedagogia na Facesi. Há 13 anos na capoeira, Claudeth, que mora no Jardim San Rafael, é a única profissional feminina da cidade e como seus alunos, quando criança viu a prática do esporte no centro comunitário de seu bairro e se interessou. Durante a vida aprendeu que a capoeira não é apenas uma luta de defesa e aeróbica, mas algo maior, relacionado aos escravos brasileiros e a luta contra a opressão. “Hoje a capoeira trabalha o lúdico, a coordenação motora ou mesmo o jogo de palavras em suas cantigas. É uma pedagogia, mas com a disciplina do esporte genuinamente brasileiro”, diz a professora.
Com atividades que duram cerca de seis meses, hoje o CAIC mantém em torno de oitenta alunos matriculados. Porém a imensidão deste projeto é maior, sendo que através do apoio da prefeitura de Ibiporã, hoje são mais de setecentas crianças atendidas nos mais diversos bairros, como o San Rafael, DER, Pires de Godoy, Bom Pastor e Santa Paula, sendo a meta dar uma ocupação e mostrar um caminho aos jovens, além da melhoria no rendimento escolar através de um esporte popular e acessível.
Um destes alunos e esportista é Wesley Luis de Oliveira, de 10 anos e morador do Jardim Vila Verde. Além da capoeira ele disputa campeonatos de futebol e ressalta que a atividade é tão divertida que se parece uma brincadeira. Como Wesley, Bruno Alexsandro Guisso, de 11 anos e morador do Azaléia, desenvolveu habilidades e não perde seu tempo na ociosidade, pois aprende algo de importante para o futuro. Outro aluno, Welerson Fernando, de 14 anos, morador da Vila Beatriz afirma que aprendeu diversas coisas com o esporte e convida os amigos a participarem das aulas, para aprender não apenas sobre um esporte, mas sobre a cultura afro-brasileira. E o rendimento escolar? Para Ewerton Vinicius, de 12 anos, morador do Pedro Morelli, é notável que seu rendimento tenha melhorado na disciplina de história, devido o aprendizado sobre os negros.
A professora de 1ª a 4ª série do CAIC, Maria Marlene de Almeida, lecionando no ensino fundamental há mais de 21 anos, comenta que na sua turma são em torno de dez anos que freqüentam com regularidade as atividades de capoeira. Como educadora ela conclui que há uma transformação no modo de pensar dos alunos, no desenvolvimento emocional e físico, onde aprendem regras, além de reforçar a idéia da existência de uma atividade no contra turno escolar que os resgata. “É um projeto que eles gostam de participar por ser algo diferenciado. Acredito que poderia haver maior adesão. Porém, o que impede é à distância a ser percorrida por alguns. Uma alternativa seria a inclusão do ensino integral para contemplar não apenas a capoeira, mas outras atividades de teor educacional. Há escolas em Ibiporã que já adotaram o período integral, trazendo os alunos para dentro da sala de aula e também para fora dela, com atividades, projetos e reforço. A capoeira é muito comentada dentro da sala de aula, tornando-se algo positivo e ressaltando a idéia, entre os alunos, que poderiam existir mais projetos e atividades”, afirma.
Claudeth lembra que um dos requisitos para freqüentar as aulas é o bom rendimento escolar e a freqüência nas aulas. “A estimulação para que tenham boas notas, reflete e influência para se tornarem bons alunos. Para isso, peço para se esforçarem em casa estudando, fazendo tarefas, trabalhos, leituras e atividades que melhorem o desempenho escolar. Na faculdade estuda-se comportamento e dá-se o exemplo da hiperatividade das crianças para descobrir até onde elas podem chegar”. Ela ainda vai mais longe ao concluir que ações como estas não contribuem apenas no rendimento escolar, mas na formação da cidadania, dos valores culturais e por chamar os alunos a virem para a escola, estimulando a presença e sendo um caminho de adaptação para um futuro ensino integral, fator de grande importância no resgate social.
É notório que ultimamente Ibiporã tem se transformado com a implantação de centros de formação na informática, reforço escolar, no esporte e cultura. Muitos pais não têm condições de educar seus filhos, dar suporte e uma visão diferenciada de mundo, devido à jornada de trabalho. Cabe aos professores e a escola ocupar este espaço, tornando-se complementos da família. Os professores, que tem uma visão mais critica da sociedade trabalham o comportamento e a comunicação de alunos que podem estar reprimidos. É neste momento que a cidadania e os projetos de cunho social tornam-se ferramentas para a construção do caráter e de futuros profissionais em diversos segmentos, sendo estes pequenos detalhes ajudam a formar nossos cidadãos.
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