quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Ainda há esperança

Visto como um problema de saúde, as drogas destroem muitas vidas. Mas, em Ibiporã, a Fazenda Esperança através do convívio, espiritualidade e trabalho, ajuda os jovens a enfrentar esta barreira.


Os problemas com álcool e as drogas reduzem em muito a expectativa de vida e as oportunidades de trabalho. Preocupada com isso, uma comunidade religiosa de Guaratinguetá resolveu criar a Fazenda Esperança, que já fora visitada pelo Papa Bento 16 em 2007 e também é conhecida como a “Fazenda das Pedrinhas”.


A história da Fazenda Esperança começa quando Nelson Giovanelli, um paroquiano que participava das reuniões do frei franciscano Hans Stapel na Igreja Nossa Senhora da Glória e queria viver intensamente o evangelho, se aproximou de um grupo de jovens que consumiam e vendiam drogas perto de sua residência, em Guaratinguetá. Nelson conquistou a amizade e confiança deles, até que outro rapaz, Antônio Eleutério, reconhecendo suas fraquezas, pediu ajuda ao novo amigo.


Os companheiros de Antonio notaram algo diferente em sua vida e isso os levou a buscar e ajudar o jovem paroquiano, que lhes propôs viver radicalmente a Palavra de Deus. À noite, combinaram de se se encontrar na igreja ao invés da rua, para trocar experiências vividas no dia-a-dia. A partir daí o grupo sugeriu a Nelson alugar uma casa para viverem juntos, sendo o aluguel e as despesas pagas com trabalhos de limpeza e jardinagem.


Com o reconhecimento da obra, este trabalho de recuperação transformou-se na Fazenda da Esperança, a partir da doação de terras, feita por uma família. Hoje se espalhou pelo mundo, com 68 fazendas nos mais diferenciados paises como México, Alemanha, Guatemala, Paraguai, Argentina, Rússia e em breve na Colômbia.


No Paraná a Fazenda Esperança atua em Toledo e em Ibiporã, esta na qual administrada pelo seminarista João Carlos Simão, vindo de Curitiba. João Carlos nos conta que tudo se baseia na espiritualidade, vivência e trabalho. Funcionando há um ano e meio na cidade, a fazenda conta oito pessoas em processo de recuperação, sendo que há, por conta de um projeto do deputado federal Luiz Carlos Hauly, há expectativa de dobrar o número de vagas através da reforma e ampliação de uma casa localizada na fazenda.


Para ingressar na Fazenda Esperança, o seminarista explica que os interessados devem escrever uma carta pedindo ajuda. Logo é postada a resposta, citando as regras de convivência, a importância do trabalho e a base cristã.


Como parte do processo de recuperação, os moradores cuidam da cozinha, horta e animais como galinhas, porcos, vacas, bois, bezerros e carneiros, além de fazerem pinturas e artesanatos vendidos por familiares e voluntários. Estes últimos são em grande numero e buscam alguma forma de se envolver. “A ajuda da comunidade é imensa, pois vêem o trabalho como uma obra de Deus e se identificam com ela”, diz o seminarista.


Questionado sobre o que pode levar as drogas, João Carlos responde que não há motivos específicos, mas acredita que ela é uma armadilha, independente se a pessoa tem 12 ou 35 anos. Mas, independente da situação, o dependente merece uma chance, podendo se curar. “O trabalho é uma destas ferramentas, mas a mudança de atitude é fundamental para a transformação e recuperação. Há uma luz, uma solução e o principal: há esperança”.


Um dos internos que não perdeu a esperança foi Vanderson Francisco Sena da Ressusseição. Como muitos jovens, por curiosidade, envolveu-se muito cedo com as drogas e neste processo conheceu o álcool, a maconha a cocaína e por fim o crack, este último, quase o levou a morte e à prisão. “Fumei crack para saber a reação, pois via meus amigos em estado de paranóia e agitação. Foi neste dia que me transformei numa pessoa que não era mais fiel aos compromissos e fiz minha família sofrer”. Com a perca do emprego e de um relacionamento amoroso, Vanderson viu os amigos se afastarem e também as forças para lutar contra a dependência química.


Com o estado de saúde do pai se agravando, procurou ajuda na Fazenda das Pedrinhas e em 2004 conseguiu um tratamento. Porém, com um mês, a perca de um irmão, para a bebida, fez com que ele tivesse uma recaída e, com a morte do pai, chegou à conclusão que sozinho não conseguiria se recuperar. “Somente Deus pode me ajudar”, refletia.


No fundo do poço e “apenas com um braço de fora”, ele teve consciência de que seu futuro seria a cadeia, o cemitério ou uma comunidade terapêutica e hoje, sem a presença do pai, reconheceu que deveria abrir seu coração e buscar o tratamento.

Nenhum comentário: