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domingo, 9 de fevereiro de 2020

Aos 90 anos Vicente Pereira viveu o auge e a decadência das olarias (Publicado em fevereiro de 2015 na Folha de Jataizinho)

É numa casa de madeira escondida pelas árvores, às margens da estrada para Frei Timóteo é que vive o oleiro Vicente Pereira. Aos 90 anos e esbanjando saúde, ele não recorda o ano exato que chegou à região. “Faz muitos anos que vim de trem (Maria Fumaça), de Muriaé, Minas Gerais, local para onde nunca voltei”. A declaração afirma a história da cidade, povoada por famílias mineiras.                                                                                                          
Vicente Pereira se instalou na Água Branca e trabalhou com Sebastião Corsino na Fazenda São José, onde lidava com gado e se casou com Benedita Damásio Pereira. Junto com o sogro Artur Damásio, montou a olaria. “Ao passar na estrada, via o barranco de barro e propus ao dono das terras a empreita. Com a venda da fazenda por um ótimo valor a Severino Félix, em comum acordo decidiram que eu poderia ficar na olaria, sem que valor algum fosse cobrado”, diz.                                                                                                           
Mesmo com a grande produção artesanal de tijolos maciços, ele vendeu diversas criações (burros, vacas e bois), para abrir e custear os negócios. E, com a decadência das olarias, nada restou do que possuía no passado. “Ajudei a construir as cidades, mas não construí meu lar”, lamenta o oleiro, que a custo do esforço criou os filhos Celso Pereira Damásio, Florizia Pereira Damásio Leite e Neuma Aparecida Pereira Risiqui.
                                                             
Dono da marca VP, de Vicente Pereira, seus produtos são encontrados nas construções antigas. “Iniciamos a olaria em torno de 1955, com uma produção média de 1500 tijolos por dia, trabalhando em cinco pessoas. Um dos grandes clientes foi a Cerâmica Jacutinga, que comprava mais de 30 mil unidades produzidas artesanalmente”, diz.                                                       
Nestes anos as transformações foram profundas e a estrada para Frei Timóteo está bem movimentada. “Da minha casa ao Tibagi é apenas atravessar a estrada e a passagem de nível por cima da linha de trem, a qual fiz. De lá retirei o barro utilizando uma carroça”, pontua. Apesar da idade, Vicente Pereira exibe saúde e lucidez, sendo a reclamação atual ser as dores nas pernas e a diabetes, decorrentes da idade. Mesmo assim ainda gosta de roçar o mato da propriedade.  E, com a olaria fechada vive com a esposa de 74 anos e o filho Celso Pereira. “A quantidade de peixes era tamanha, que devolvíamos ao rio ou doávamos. Era a época do barbado. Infelizmente isto mudou, pois há muitos pescadores hoje. Outro fato foi à quantidade de olarias que havia às margens do rio, das mais diversificadas famílias, como Galli, Risique, Petri, Dionísio Stricker, Zé Mineiro, Bialta, Furlan, Olívio Tini, Domingos Diana, Angelin Causa, Alberto Negro, Augusto Lourenço, João Dib, Paulo e Moacir Contieiro, São Chapina, além do José Luís, o popular Cachorro Louco”. Onde hoje funciona o Clube de Campo foi uma cerâmica. Após um levantamento, há vinte anos, numa extensão de 20 quilômetros, havia cerca de 80 olarias em Ibiporã e Jataizinho.                                                                 
Vicente Pereira cita que uma personalidade importante na história das cerâmicas foi o contador Mauro Pierro, ex-prefeito de Ibiporã (1969 – 1973) e que tem o filho, Mauro Pierro Júnior, como atual contador de diversas olarias e cerâmicas. “As olarias são fundamentais para o crescimento das cidades, além de trazer dinheiro para Jataizinho”, finaliza.

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