O
músico, jornalista e escritor Aldo Moraes acaba de ser eleito membro da
Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil. O londrinense foi comunicado
pelo Presidente Armando Caaraura, que é maestro e escritor, sobrinho-neto de
Manuel Bandeira. Vencedor de prêmios musicais na Europa, Brasil e América
Latina, Aldo Moraes tem sete livros lançados e poemas espalhados por dezenas de
coletâneas literárias. Seu poema “Lágrima de mulher” foi premiado em dez concursos
no Brasil, Portugal e Estados Unidos. Nos dois últimos anos, foi convidado do
Festival Literário Londrix; Festival de Poesia de Lisboa; Encontro de poetas em
Cuba; Festival Transve de poesias e Festival Literário de Santa Teresa e poemas
no Salão Internacional do Livro de Genebra 2020. O artista criou o “Batuque na
caixa” em 1999 e foi Secretário de Cultura em Londrina. Em 2017, foi
homenageado pelo Congresso Nacional por ter sido premiado no Culturas Populares
(Ministério da Cultura) com nota máxima. Moraes também é membro da Academia
Independente de Letras, sediada em Pernambuco.
Nascido
na Vila Fraternidade em Londrina, Aldo Moraes tem 49 anos e aos seis anos foi
morar no Ruy Virmond Carnascilali, onde começou a estudar na Escola Municipal David
Dequech, no Jardim Ouro Verde. Foi ali que o grande maestro começou a se
interessar pelas artes como a música e a literatura. Antes disso, em maio de
1977, seu pai, Noé Salustiano de Moraes faleceu precocemente e deixou a mãe
Marlene Moraes e os irmãos Gislaine de Moraes, Valquíria Moraes e Clodovil
Moraes. Por conta desta adversidade, a mãe que trabalhava como doméstica, foi
uma mulher batalhadora e o incentivou a ler através de livros, revistas e
jornais que trazia das casas dos patrões. Mas a influência da mãe, autora do
livro “Memória da Mulher Negra Londrinense”, se deu por outro motivo também:
Marlene Moraes era cantora de rádio desde os sete anos. Quando chegou a
Londrina, vinda de Ourinhos, ao 16 anos, ela ainda interpretou sucessos de
Carmem Miranda, Dalva de Oliveira, Nelson Gonçalves e outros ícones da época em
emissoras como a Rádio Londrina, por exemplo. Mas, ao conhecer Noé Salustiano
de Moraes, aos 25 anos, ela tornou-se mãe e começou a se dedicar a família e
aos filhos.
Com
o incentivo da mãe, aos oito anos ele começa e escrever e com nove anos, na 3ª
série, em 1980, ganha o prêmio da melhor redação escrita por um aluno das escolas
de Londrina. “Aquilo foi fantástico! Ganhei uma coleção de livros do Monteiro
Lobato e um diploma. Aquilo mexeu comigo”, recorda. Mesmo com o reconhecimento
precoce na literatura, a música era mais forte e ele acreditava que havia uma
distância entre ambas e não podia transitar entre as duas artes.
Com
a evolução dos estudos e o amadurecimento, em 1993 com 23 anos, Aldo Moraes
funda a Free Music e em 1996 ela começa a funcionar do Diretório Central dos
Estudantes da Universidade Estadual de Londrina, o DCE da Rua Hugo Cabral. Era um
espaço cultural amplo, aberto e também o embrião das Vilas Culturais de
Londrina, com atividades voltadas a juventude, como música, teatro, danças
variadas, literatura e artes plásticas. Apesar de jovem, ele compartilhou de
forma profunda o que havia nele: prêmios musicais na Europa em 1994, que
consistiu na composição musical do “Livro dos Sonhos” para piano e orquestra,
na Áustria, além da experiência de ter estudando música em São Paulo. Nessa
época ele descobriu vocação e talento para promoção cultural através da música.
A
Free Music atuou intensamente por dois anos com muitas atividades, colaborou junto
a Universidade Estadual de Londrina, além de fazer apresentações em espaços
como a Associação Médica de Londrina e Secretaria Municipal de Cultura. “Era
uma época de folhetim poético e divulgamos este trabalho em eventos nas ruas.
Quando a Free Music encerrou as atividades por conta da devolução do espaço ao
DCE, seis meses depois criamos o Batuque na caixa, que fornece cursos de
formação gratuitos em cordas populares como violão, guitarra, baixo, cavaquinho,
percussão, canto, literatura, oficinas variadas, distribuição de livros e teatro.
Mais de sete mil alunos foram atendidos em Londrina, Cambé, Sertanópolis, Cianorte
e Rolândia no Paraná. O Batuque pretende se estender para Bauru (SP) e Nordeste
do Brasil.
Paralelo
a Free Music e ao Batuque na caixa, Aldo Moraes começa a participar de concurso
de literatura, ganhar prêmios e ter seus trabalhos divulgados em livros,
revistas e jornais. Do ano 2000 até a atualidade (2020) ele estabelece a
participação em premiações, festivais literários, poesia e eventos culturais
variados. Nessa trajetória escreve sete livros, sendo dois de poesia (Poemas
dos Amanhecer e Outros Poemas), um de contos (Conto Extraordinários, dividido
em duas etapas: vida familiar inspirado no estilo de Nelson Rodrigues e um segundo
momento que aborda a vida do homem com Deus), um romance (Casasanta, que se
passa em Londrina de 1950 a 2000 e relata a história de uma mulher negra que luta
para manter um casamento fracassado, além da falta de oportunidades que ela tem
devido ao fato de ser negra) e mais três de música (Um de reflexão: “A música
por Aldo Moraes” e outros dois de partituras comentadas de Villa Lobos e peças
para orquestras: “Música de Câmara” e “Suítes Brasileiras”). Esses livros são
comercializados pela internet. Na opinião do autor um excelente canal para
obter patrocínios, divulgar e comercializar livros, uma vez que jovens leitores
usam aplicativos como blogs, Facebook, Instagram, Twiter para conhecer novos escritores.
Ele também diz que a plataforma “Clube dos Autores” é outro canal que divulga
vários livros e autores, como ele, além de possibilitar a venda de suas obras
para todo o Brasil e chegar a países da África e Portugal e, dar a chance de interagir
com leitores através de mensagens.
Na
atualidade esse grande talento do Paraná está Indiaroba, na divisa de Sergipe
com a Bahia. Ele foi convidado pelo prefeito Adinaldo Nascimento para verificar
a possibilidade de implantar o Batuque na caixa no município. “Indiaroba e
Londrina assinaram uma irmandade em 2017, quando o prefeito veio ao Paraná
formalizar a parceira junto ao prefeito Marcelo Belinati”, relata Aldo, que em
2019 foi conhecer a cidade, a tradicional Festa de São João e uma cultura com quase
500 anos. “Em fevereiro de 2020 vim a Indiaroba para ficar 15 dias, conhecer empresários
e apresentar o Batuque na caixa. A cidade foi muito acolhedora e resolvi ficar.
Em maio retornei a Londrina para resolver algumas pendencias e retornei ao
Nordeste. Indiaroba tem 80 anos de emancipação política, mas como povoado é
antiga, remonta ao período do descobrimento do Brasil. Cidade fronteiriça do
Sergipe, com a Bahia, ela possui um grande material histórico e cultural. Estou
encantado com tudo isso e atualmente faço a catalogação desse acervo. A riqueza
cultural se observa na população, que mantém na fala e nos costumes a tradição da
música popular brasileira através da manifestação de grandes mestres do coco,
forró e samba. Isto está no dia a dia. Através de observações, percebe-se que
os hábitos locais do Nordeste, seja na cultura e no vocabulário, estão enraizados
na vida do povo e sem a interferência do eixo Rio – São Paulo. Isso eleva a
cultura popular. Dança e literatura são permanentes aqui. Ainda se escreve cordel,
textos decassílabos em forma de repente e sonetos. Registro essas tradições culturais
para transformar em livros, dança, música e documentário áudio visual”, afirma.
Há
uma enorme expectativa quanto ao resultado final, não apenas da população, mas
também do prefeito Adinaldo Nascimento, devido Indiaroba ser uma cidade litorânea
e turística, onde a população vive da agricultura (mandioca, milho, abacaxi), pesca
(caranguejo, camarão e peixes) e dos festejos juninos e tradições populares que
duram mais de um mês e trazem muitos turistas a localidade. “A tradição das
festas juninas é muito forte no Nordeste. Para cada santo há uma comemoração
diferente. Para Santo Antônio, o santo casamenteiro, se coloca a imagem de
cabeça para baixo, além do enorme bolo que tem medalhas do santo dentro. Depois
vem as festas de São João com a grande fogueira, as celebrações religiosas de
cunho católico, as comidas tradicionais, como o quentão, a canjica e a macaxeira
por exemplo. Na festa de São Pedro há bastante coisa envolvendo o mar, barcos,
rios, algo muito próximo ao pescador, além dos passeios e procissões nos rios e
mar. Antes disso, Indiaroba também celebra a Festa do Divino Espirito Santo, em
respeito à Nossa Senhora da Conceição, santa padroeira da cidade. Esta festa
marca o início dos festejos juninos. Tamanha é a grandeza da tradição, que no mês
de junho as famílias colocam santos e altares nas portas das casas, onde passa
a procissão e o Divino Espirito Santo é coroado e levado a Igreja do Divino. Não
é apenas o resgate e registro da cultura ancestral de uma cidade com população
80% negra que faço. Eu resgato a mim mesmo”, declara o músico.
Mas
quem pensa que o trabalho termina por aí, está enganado. No campo da
literatura, este ano ele foi convidado para cerca de dez festivais literários,
desses, cinco no exterior (Cuba, Estados Unidos, Portugal, Itália e França). Esses
festivais internacionais já aconteceram e ele enviou vídeos, livros e poemas, além
das participações em lives com autores onde houve o lançamento de livros. Aldo
Moraes também está fazendo muitas composições devido a tranquilidade de
Indiaroba, além do mar, os rios, as belas paisagens, o povo bonito e acolhedor
lhe serem propícios a inspiração. Soma-se a tudo isso o convite para participar
da Academia de Letras do Brasil. Quem o indicou foi o presidente, maestro Armando
Caaraura. A Academia de Letras do Brasil reúne autores de todo país e colaboradores
estrangeiros. “É o momento de celebrar um grande passo na área da literatura, ter
maior divulgação em diferentes lugares, além de dialogar com outros autores. Não
existe cultura e arte sem diálogo”, diz.
Quanto
as composições musicais, Aldo Moraes pontua, dizendo que fez peças eruditas
premiadas no exterior e de canções populares, além de parcerias com Jaime
Santos e Wilmar Cirino, executadas em várias partes do Brasil. Outra canção “Jéssica”,
música em inglês com pegada country, é presença nas rádios da caixola para o
mundo: Interativa FM, Alternativa FM, Rádio Brasil Sul, Paiquerê FM e São Jorge
FM. Esta canção também foi tema da
revista de Arte Londrina do site cultural Arte Brasil e no Youtube. “Há uma
esperança”, “Romã” (que dá nome ao CD lançado por Jaime Santos em 2019) e “Chegando”,
são canções com poesia moderna que circulam pelas redes sociais e web rádios.