sexta-feira, 30 de novembro de 2007

MiniConto

Era jovem. Tinha força, vontade, determinação e além de tudo, sonhos e aspirações de um futuro melhor. Naquela época não tinha nada. Queria ser alguém e mostrar ao mundo que era capaz. As oportunidades eram raras. Iria para bem longe. Aquele lugar já não lhe servia mais. Saiu sem saber o que lhe aguardava na próxima esquina. Conheceria novas pessoas que mudariam seu destino. Na mochila algumas roupas, um pouco de dinheiro, livros e a esperança de encontrar a felicidade. Sabia que a vida é longa e que a cada hora vivida, algo de inovador acontece.
No metrô da metrópole, um rosto desconhecido lhe era familiar. Viu aquela garota em algum lugar. Alguém que esbarrou pelas ruas do mundo. Pediu desculpas e continuou sua jornada. Em sua mente, a lembrança de que na grande cidade, um dia se encontrariam para conversar amenidades, tomar um café e rir sem compromisso.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

As Rádios Livres no BR



As rádios livres, no BR, começaram a aparecer nos anos 70, numa época em que os meios de comunicação de massa estavam, de forma predominante, nas mãos de pessoas ou grupos privilegiados com a concessão de canais, por decisão unilateral do poder executivo federal.
A primeira experiência foi a Rádio Paranóica, de Vitória (ES), craida em 1970 e fechada em fevereiro de 1971. Seus idealizadores foram dois irmãos, na época com 16 e 15 anos, cujo interesse era tão-somente fazer rádio, o que não impediu que o mais novo fosse preso, acusado de subversão, algo que nem conhecia, assim como não tinha nenhuma ligação com grupos de esquerda. A emissora tinha o mote "Paranóica, a única que não entra em cadeia com a Agência Nacional". Apesar de ter sofrido intervenção, voltou a funcionar em 1983 e ainda continua no ar. Na segunda metada da década de 90, adotou o nome Rádio Sempre Livre.
Quando houve a "abertura lenta, gradual e segura" do regime militar, mais ao fim da década de 70 e início dos anos 80, as rádios livres passariam a desenvolver-se com maior intensidade, disseminando-se em muitas cidades brasileiras.
Num primeiro momento, as rádios livres eram constituídas por jovens interessados, antes de tudo, em praticar a arte da radiofonia, pouco ou nada envolvidos com "grandes causas". Em muitos casos, tratava-se de "uma curtição de roqueiros" que se diziam apolíticos. Após isso, instalaram-se emissoras mais sensíveis à questão da centralização dos meios de comunicação, bem como a problemática sócio-econômico do país, embora continuassem preponderando o senso de ironia e a preocupação em ousar. Dizia um pequeno manifesto da Cooperativa dos Rádio-Amantes: "Nós iniciamos um movimento de reforma agrária no ar. O rádio é uma conquista técnica da humanidade e não pode ficar nas mãos de proprietários-concessionários".
Na sociedade civil, apesar da demanda por mudanças nos mais variads setores, os movimentos pela democratização da comunicação não tem conseguido muita adesão. Existem cômites nos vários estados e o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação é bastante forte, embora muito limitado ao mundo dos jornalistas.
As rádios livres, mesmo que algumas possam ter sido decorrência de aventuras sem maiores pretensões políticas, são, no conjunto, um protesto contra a forma de acesso aos instrumentos massivos e uma tentativa de conquistar a liberdade de expressão a qualquer preço. Elas contribuíram para o debate sobre a estrutura dos meios de comunicação no BR, que também teria lugar na Assembléia Constituinte, mas nunca veio a empolgar setores representativos da sociedade nem conseguiu grandes avanços no texto da nova Lei Magna promulgada em 1988.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Deu na capa da Folha Norte de Londrina

Alunos do Parigot pesquisam alternativa para o futuro

Jovens cientistas descobrem substância que pode ser utilizada como combustível em automóveis sem poluir o meio ambiente.

Um grupo de alunos do Colégio Estadual Adélia Dionísia Barbosa, do Parigot de Souza III, na região Norte de Londrina, realizou uma pesquisa sobre combustíveis alternativos e descobriu que o hidrogênio pode ser utilizado na locomoção de veículos e máquinas. Isso também ajudaria a diminuir os efeitos climáticos causados pelo aquecimento global.
O trabalho, denominado “Hidrogênio – Uma alternativa para o futuro” foi feito pelos integrantes do Clube de Ciências do colégio, que colocaram um motor de automóvel em funcionamento utilizando apenas o elemento pesquisado. De acordo com o professor de Matemática Adriano Augusto Leite de Azevedo, coordenador da pesquisa, o hidrogênio foi escolhido porque não emite gás carbônico na atmosfera, considerado o principal responsável pelo efeito estufa e pelo aquecimento global.
“A idéia surgiu quando os alunos viram um livro de Física com um foguete movido a hidrazina. Depois, foram pesquisadas substâncias como o biodiesel, o álcool e o gás natural. Constatou-se que eles desperdiçam muita energia na sua produção, poluem o meio ambiente, não suprem a necessidade de abastecimento e ainda geram resíduos tóxicos”, relatou.
Para encontrar um combustível alternativo mais viável para o meio ambiente, os jovens cientistas realizaram pesquisas em livros, revistas e internet a respeito do hidrogênio e seu uso tecnológico e chegaram à conclusão que a substância é a menos poluente. A utilização de alimentos na obtenção de combustíveis também foi verificada, mas, conforme o professor, o uso da soja pode gerar problemas no abastecimento e encarecer o alimento.
O aluno do 1° ano do Ensino Médio, Marcos Alexandre Sales, de 15 anos e integrante do Clube de Ciências, disse que um carro de 1000 cilindradas tem capacidade para percorrer, com 10 metros cúbicos de hidrogênio, 100 km. “O motor não sofre nenhuma modificação, apenas se faz uma adaptação no carburador”, avisou o jovem cientista, que desde 2005 participa do grupo e já ensina conceitos básicos de Física e Matemática aos alunos mais novos.
Financeiramente, o projeto “Hidrogênio: Alternativa para o futuro” não é viável devido aos altos custos do cilindro, em torno de R$1.700,00, e da carga de hidrogênio, que tem 10 metros cúbicos e custa R$1.000,00. “Todo o material para desenvolvimento das pesquisas foi doado por empresários que atuam na área”, informou o professor de Matemática.
Azevedo lembrou que ainda há um projeto para a construção de um equipamento com três partes que seriam utilizadas para separar hidrogênio e oxigênio, no entanto é necessária a colaboração de um patrocinador, pois o orçamento da maquina é de R$25 mil.
Em 2008, os alunos do Colégio Estadual Adélia Dionísia Barbosa participarão da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), voltada para estudantes do último ano do Ensino Médio e Técnico. A feira será realizada de 11 a 15 de março de 2008 na USP (Universidade São Paulo). Neste ano, o Clube de Ciências já foi premiado em um concurso realizado em Londrina, que contou com a participação de 25 escolas.
Grupo aprende ciência na prática

O Clube de Ciências do Colégio Professora Adélia Dionísia Barbosa surgiu em 1998, após o professor Adriano Azevedo observar que muitos alunos tinham dificuldades em aprender Matemática, Química e Física. Com o início das reuniões, o interesse dos estudantes aumentou pelas disciplinas da área de exatas. “Sempre que um aluno tem uma dúvida a respeito de determinado assunto que envolva a ciência, ele traz à sala de aula para pesquisa e discussão coletiva. É essa curiosidade e exposição de idéias que fazem os alunos se interessarem pelos estudos. Com a prática a aceitação do conteúdo foi maior e mais agradável”, ressaltou. Hoje, participam das reuniões 15 alunos, na faixa etária de 14 a 17 anos, que fazem parte das turmas de 8ª série ao 3º ano do Ensino Médio. Wagner Pires Bento, 16 anos, morador do Alto da Boa Vista e aluno do 2° ano, começou a participar do grupo há cinco meses e revela que a aplicação dos conhecimentos científicos nos estudos lhe garantiu melhores notas. “Além disso, é importante se conscientizar de que o meio ambiente deve ser preservado para que a humanidade não pereça no futuro”, afirmou.
Para Mayara Barra, 15 anos, aluna do 1° ano do Ensino Médio, o aprendizado pela prática transforma o estudo em algo divertido e isso incentiva a pesquisa. A estudante disse que ela e os amigos se vêem como jovens cientistas ou futuros físicos, matemáticos e químicos. “É uma ‘ponte’ para a entrada na universidade. Cada um tem seu potencial. Quando se tem uma dúvida individual, é pelo coletivo que se fazem as pesquisas e se trazem as respostas. Cada lição aprendida é uma experiência vivida”, declarou.

Reportagem escrita por Marcelo Souto e publicada na Folha Norte de 10/11 a 16/11/2007

domingo, 25 de novembro de 2007

"O aeroplano"

Quisera ser às para voar bem alto
sobre a cidade de meu berço!
Bem mais alto que os lamentos bronze,
as catedrais catalépticas.

Dar cambalhotas repentinas,
loopings fantásticos,
saltos mortais,
como um atleta elástico de aço.

O ranger rascante do motor...
No anfiteatro com painéis de nuvens.
Tambor...

Se um dia,
o meu corpo escapasse ao aeroplano,
eu abriria os braços com ardor,
para o mergulho azul na tarde transparente...

Como seria semelhante,
a um anjo de corpo desfraldado.
Asas abertas, precipitado,
sobre a terra distante...

Riscando o céu na minha busca,
rápida e precisa,
cortando o ar em êxtase no espaço,
meu corpo cantaria,
sibilando,
a sinfonia da velocidade.

E eu tombaria,
Entre os braços abertos da cidade...

Ser aviador para voar bem alto!


Por Luis Aranha

Quem foi Luis Aranha?

Luis Aranha nasceu em São Paulo, no ano de 1901 e morreu no Rio de Janeiro em 1987. Participou, em 1922, na Semana de Arte Moderna, em São Paulo. Entre 1922 e 1923 colaborou na revista modernista Klaxon, publicando os poemas "O Aeroplano", "Paulicéia Desvairada", "Crepúsculo" e "Projetos". Aranha teve alguns de seus poemas publicados no artigo "Luis Aranha ou a Poesia Preparatória", de Mário de Andrade, na Revista Nova, em 1932. O artigo foi publicado novamente em 1943, como parte integrante do livro "Aspectos da Literatura Brasileira". Seus poemas foram reunidos e publicados em 1984, no livro Cocktails, editado por Nelson Archer. Luis Aranha pertence à primeira geração do Modernismo e sobre sua poesia afirmou o crítico Antonio Risério: "a obra incompleta de Luis Aranha aponta para o futuro. Seus poemas estão entre as criações mais arrojadas que o modernismo produziu em seus disparos iniciais. Um projeto poético inovador, radical, engajado até a medula na criação de uma poesia adequada às novas realidades do mundo urbano-industrial.".

O ofício do poeta

“Mundo” se escreve com uma palavra e cinco letras.
Se não existissem as palavras, não haveria o mundo.
As letras ditam o significado dos objetos,
e concretizam as razões para se viver.

A poesia dá sentido à vida,
e liberta o oprimido.
Quando advém do sábio, expressa conhecimento.

Os versos que adormecem nos ouvidos,
São ecos infinitos que ressoam no ar.
Inseridas em nossas mentes,
criam as imagens do real.

Emaranhados de letras digeridas,
resultam em idéias pujantes e no grito ardido,
que se exaspera de uma boca flamejante.

Elas são signos longínquos,
que voam no espaço perdido,
do mar da semântica,
onde os adjetivos tornam-se abstrações.

As palavras são guiadas pela boca,
pelo vento do redemoinho,
onde o poeta sorri com o coração.

Por isso,
fale,
escreva e pense,
com base nas palavras.

As rádios dos Trabalhadores Mineiros Bolivianos

As rádios mineiras bolivianas são experiências históricas no Continente latino-americano, no que se refere ao uso autônomo da tecnologia eletrônica de comunicação por segmentos da classe trabalhadora. As emissoras falavam sobre os problemas locais e eram orgânicamente vinculadas aos movimentos sindicais dos trabalhadores nas minas de estanho. Eram ligadas diretamente ao contexto da vida dos "mineros bolivianos", seja nos momentos de paz ou de conflitos. As rádios, que na década de 50 chegaram ao número de 28 e tinham mais de 32.000 ouvintes, surgiram em função da necessidade de comunicação entre os mineiradores entre sí e com o povo boliviano. A emergência da instalação, dos canais de comunicação, não se deu ao acaso. Tudo foi fruto de um processo de conscientização e prática política vivida pelos trabalhadores bolivianos. Nascidas nessa conjuntura, também cresceram num ambiente conflitivo, marcado pelas lutas de demanda e de enfrentamento por que passaram durante os regimes militares instalados em seu país.
Os mineiros sabiam que dispor de rádios poderia ser de enorme utilidade para difundir suas mensagens, idéias e reivindicações. Eles assumiram como tarefa possuir seus próprios equipamentos e, uma vez conquistado este objetivo, o defenderam com suas vidas. A história das intervenções militares nos acampamentos e a destruição de suas emissoras foi uma constante, assim como o heroísmo com que resistiram aos ataques contra elas e, apesar de tudo, as colocavam de volta em funcionamento.

sábado, 24 de novembro de 2007

Poesia-Manifesto Indianista

Com a força de Tupã

Sou Arapuã, filho do Sol e da Lua,
cunhado pelas mãos da Pachamama.
De noite, ando rápido como um jaguar,
de dia, vôo alto como um condor.

Sou cacique do povo Guarani,
tenho a sabedoria do pajé
e a força do guerreiro.
Meu cocar é de penas de arara e de tucano.

Escondo-me no nevoeiro
e, com a minha lança,
luto contra meus inimigos,
impiedosos forasteiros que vêm nos saquear.

Sou sábio, sagaz e veloz.
Meus olhos são como os da aguia e corro como um puma.
Com o rosto pintado com urucum,
vou a guerra.

Sou forte e bravo,
guerreiro com a força de Tupã.
Ao cair da noite, como aipim à beira do fogo,
conto estórias, transmito tradições.

Kaingang, Guarani, Yanomami,
Terena, Xoclén, Karajá e Pataxó
todos unidos.

Os inimigos invadem nossas terras
e querem construir usinas.
Tamanha covardia!

Seus operários maltratam nossas índias,
põem fogo na mata e caçam os animais.

Que Tupã nos dê sua força
para lutar e destruir nossos inimigos.
Só assim a lança triunfará e
libertará os índios.

Concreto armado


Alto, imponente e com o brilho ofuscante que irradia a nova aurora de vidro, aço e concreto. No interior do gigante armado, são milhares de vidas que circulam, das mais diferentes profissões e diversificadas ocupações. Nas mentes azuis e nos corações cinza-cromo aflitos de seus transeuntes o despertar para a visão infinita que alcança o mais distante horizonte.

Quem é o SubComandante Marcos?

"Marcos é gay em São Francisco, negro na África do Sul, asiático na Europa, hispânico em San Isidro, anarquista na Espanha, palestino em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal, rockeiro na cidade universitária, judeu na Alemanha, feminista nos partidos políticos, comunista no pós-guerra fria, pacifista na Bósnia, artista sem galeria e sem portfólio, dona de casa num sábado à tarde, jornalista nas páginas anteriores do jornal, mulher no metrô depois das 22h, camponês sem terra, editor marginal, operário sem trabalho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, zapatista no Sudoeste do México. Enfim, Marcos é um ser humano qualquer neste mundo. Marcos é todas as minorias intoleradas, oprimidas, resistindo, exploradas, dizendo ¡Ya basta! Todas as minorias na hora de falar e maiorias na hora de se calar e aguentar. Todos os intolerados buscando uma palavra, sua palavra. Tudo que incomoda o poder e as boas consciências. Este é Marcos."

O mito da realidade

Vivia sem destino pela vida. Tinha a sua frente o mundo inteiro e tinha como certeza absoluta a manhã derradeira de uma segunda-feira. Diante das expectativas de um futuro melhor, havia deixado tudo para traz em busca do sucesso. E ali encontrou. Na metrópole cinza entre carros alucinados e prédios íngremes, não via dificuldades em vencer os desafios. Era o herói do povo mas também o mito da avareza.