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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Tijolo para casa na roça e prédio da Gleba Palhano: Benedicto Furlan diversificou e mostrou desenvoltura em vários ramos, numa vida empreendedora

Pai, avô e bisavô. Benedicto Furlan (já falecido) foi uma lenda viva da construção civil. Nascido em 1934 em Assis (SP), especificamente na Água do Servo, tinha o pai como agricultor e a mãe do lar, numa época que arroz era socado no pilão e não havia facilidades como estradas e atendimento médico. Não demorou muito e em 1938 a família Furlan atravessou o mato e chegou ao distrito de Taquari para iniciar a lavoura. Saudosista, Benedicto em junho de 2014 deu uma entrevista ao jornal Folha de Jataizinho, onde recordou que cortava a picada de terra carregando toras de árvores centenárias.

Na infância marcada com parcos recursos, perdeu dois irmãos: Máximo e João, sendo este vítima de difteria. Ficou apenas Maria, já falecida. Apesar de tudo, foi nas dificuldades que teve a oportunidade de atuar como lavrador, plantar milho e criar porcos. Não se deixando abater, aos 17 anos montou uma olaria. Cortou madeira, plantou sapê e fez um barracão onde começou a produzir tijolos. Isto foi em 1951. Com o sucesso do negócio, num mercado que hoje é um dos mais lucrativos, o da construção civil, comprou uma venda na Taquari e em 1960 construiu um armazém de secos e molhados. “Na época havia bons fregueses. O país era rural. Existiam diversos moradores, farmácia, mercearia, armazéns, açougue e igreja. Mas, com o inesperado êxodo rural, por conta do enfraquecimento da agricultura, muitos migraram para as cidades e infelizmente constituíram favelas. O êxodo rural mudou a agricultura. As lavouras deram lugar a mecanização com a soja e o trigo. A mão de obra já não era necessária. Com a perda dos fregueses, vim para a cidade e comprei três terrenos. Toquei uma loja de secos e molhados até 1975, comprei uma chácara e montei uma olaria. Hoje, onde havia a “venda” funciona uma oficina de motos”, disse na época.

Apesar de Jataizinho ser desenvolvida em 1975, ele recordou que ela ia até a Rua Nicola Paissade e ao Hospital Santa Teresinha. O resto era lavoura e onde fica o Parigot de Souza, havia uma plantação de eucalipto. Na época, Benedicto Furlan era o vice-prefeito. “A prefeitura comprou o terreno para construir o bairro e o colégio. Estavam presentes autoridades que homenagearam o governador e o prefeito da época, Orlando Salles Stricker, além dos vereadores”, afirma.

Na época da entrevista ele era o vice-presidente do diretório municipal do PMDB e sua entrada na política foi pela vontade de ver a situação melhorar. “Atuei como vice-prefeito entre 1972 a 1976. Havia pouco maquinário. Compramos uma motoniveladora e dois caminhões, além de carros menores. Demos um embalo para Jataizinho”, afirma. Este legado político influenciou tanto a família, que neto e genro chegaram ao cargo de vereador, além de filhas e netos serem advogados, comerciantes e professores.

A vida politica não impediu a Benedicto diversificar os negócios. Aos poucos, com dedicação, vontade e trabalho, além de acordar cedo e fechar a “venda” tarde, viu que era o momento de expandir. Investiu no ramo da cerâmica e começou a produzir tijolo maciço. “O tijolo maciço era vendido para oito grandes construtoras de Londrina e região. Mesmo o ramo da cerâmica é passível de crise financeira e, para não padecermos é importante a diversificação dos negócios”, declara.

Em 2014, aos oitenta anos e saudável, Benedicto viu a evolução, o passar do século e as transformações devido a tecnologia. No entanto, o tijolo fabricado há 60 anos é feito da mesma forma e mantém boa aceitação. “Bases de prédios, garagens, subterrâneos e construções próximas as vigas são de tijolo maciço. Vivo desde a época que se fazia casas na área rural de Jataizinho ao tempo dos edifícios modernos e luxuosos. Cerca de 80% prédios da Gleba Palhano, em Londrina, são feitos com tijolos de Jataizinho. Diversificando a economia, não há crise. Desde os 17 anos sou comerciante e hoje emprego cerca de trinta pessoas. As cerâmicas são os maiores sucessos da cidade, pois daqui sai cerca de 200 mil tijolos por dia, que tem o dinheiro como retorno”, afirmou.
Outra atividade exercida por Benedicto Furlan foram os portos de areia. Porém não investiu muito devido a areia extraída do Tibagi ser contaminada. “Abaixo da captação de água, em Londrina, há um córrego que vem do Limoeiro. Ele traz impurezas como óleos, graxas, detergentes e resíduos de petróleo. Na tentativa de montar o porto, finquei uma vara de bambu, com um ferro na ponta para achar areia. Em três metros abaixo há muita graxa que se juntou no rio. A draga extraia areia e junto vinha graxa. Isto é recente. Deve haver mais fiscalização dos órgãos de meio ambiente para não existir tamanha poluição. Um dos prejudicados são os peixes, que não se desenvolvem plenamente na região”, afirmou.

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