Pai, avô e bisavô. Benedicto
Furlan (já falecido) foi uma lenda viva da construção civil. Nascido em 1934 em
Assis (SP), especificamente na Água do Servo, tinha o pai como agricultor e a
mãe do lar, numa época que arroz era socado no pilão e não havia facilidades
como estradas e atendimento médico. Não demorou muito e em 1938 a família
Furlan atravessou o mato e chegou ao distrito de Taquari para iniciar a lavoura.
Saudosista, Benedicto em junho de 2014 deu uma entrevista ao jornal Folha de
Jataizinho, onde recordou que cortava a picada de terra carregando toras de árvores
centenárias.
Na infância
marcada com parcos recursos, perdeu dois irmãos: Máximo e João, sendo
este vítima de difteria. Ficou apenas Maria, já falecida. Apesar de tudo, foi
nas dificuldades que teve a oportunidade de atuar como lavrador, plantar milho
e criar porcos. Não se deixando abater, aos 17 anos montou uma olaria. Cortou
madeira, plantou sapê e fez um barracão onde começou a produzir tijolos. Isto
foi em 1951. Com o sucesso do negócio, num mercado que hoje é um dos mais
lucrativos, o da construção civil, comprou uma venda na Taquari e em 1960 construiu
um armazém de secos e molhados. “Na época havia bons fregueses. O país era
rural. Existiam diversos moradores, farmácia, mercearia, armazéns, açougue e
igreja. Mas, com o inesperado êxodo rural, por conta do enfraquecimento da
agricultura, muitos migraram para as cidades e infelizmente constituíram
favelas. O êxodo rural mudou a agricultura. As lavouras deram lugar a
mecanização com a soja e o trigo. A mão de obra já não era necessária. Com a
perda dos fregueses, vim para a cidade e comprei três terrenos. Toquei uma loja
de secos e molhados até 1975, comprei uma chácara e montei uma olaria. Hoje,
onde havia a “venda” funciona uma oficina de motos”, disse na época.
Apesar
de Jataizinho ser desenvolvida em 1975, ele recordou que ela ia até a Rua
Nicola Paissade e ao Hospital Santa Teresinha. O resto era lavoura e onde fica
o Parigot de Souza, havia uma plantação de eucalipto. Na época, Benedicto
Furlan era o vice-prefeito. “A prefeitura comprou o terreno para construir o
bairro e o colégio. Estavam presentes autoridades que homenagearam o governador
e o prefeito da época, Orlando Salles Stricker, além dos vereadores”, afirma.
Na
época da entrevista ele era o vice-presidente do diretório municipal do PMDB e sua
entrada na política foi pela vontade de ver a situação melhorar. “Atuei como
vice-prefeito entre 1972 a 1976. Havia pouco maquinário. Compramos uma
motoniveladora e dois caminhões, além de carros menores. Demos um embalo para
Jataizinho”, afirma. Este legado político influenciou tanto a família, que neto
e genro chegaram ao cargo de vereador, além de filhas e netos serem advogados,
comerciantes e professores.
A vida politica
não impediu a Benedicto diversificar os negócios. Aos poucos, com dedicação, vontade
e trabalho, além de acordar cedo e fechar a “venda” tarde, viu que era o
momento de expandir. Investiu no ramo da cerâmica e começou a produzir tijolo
maciço. “O tijolo maciço era vendido para oito grandes construtoras de Londrina
e região. Mesmo o ramo da cerâmica é passível de crise financeira e, para não
padecermos é importante a diversificação dos negócios”, declara.
Em
2014, aos oitenta anos e saudável, Benedicto viu a evolução, o passar do século
e as transformações devido a tecnologia. No entanto, o tijolo fabricado há 60
anos é feito da mesma forma e mantém boa aceitação. “Bases de prédios, garagens,
subterrâneos e construções próximas as vigas são de tijolo maciço. Vivo desde a
época que se fazia casas na área rural de Jataizinho ao tempo dos edifícios modernos
e luxuosos. Cerca de 80% prédios da Gleba Palhano, em Londrina, são feitos com
tijolos de Jataizinho. Diversificando a economia, não há crise. Desde os 17
anos sou comerciante e hoje emprego cerca de trinta pessoas. As cerâmicas são
os maiores sucessos da cidade, pois daqui sai cerca de 200 mil tijolos por dia,
que tem o dinheiro como retorno”, afirmou.
Outra
atividade exercida por Benedicto Furlan foram os portos de areia. Porém não
investiu muito devido a areia extraída do Tibagi ser contaminada. “Abaixo da
captação de água, em Londrina, há um córrego que vem do Limoeiro. Ele traz
impurezas como óleos, graxas, detergentes e resíduos de petróleo. Na tentativa
de montar o porto, finquei uma vara de bambu, com um ferro na ponta para achar areia.
Em três metros abaixo há muita graxa que se juntou no rio. A draga extraia areia
e junto vinha graxa. Isto é recente. Deve haver mais fiscalização dos órgãos de
meio ambiente para não existir tamanha poluição. Um dos prejudicados são os
peixes, que não se desenvolvem plenamente na região”, afirmou.
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