Criada por
escravos africanos da etnia Banto no século 17, a capoeira é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade
pela UNESCO. O reconhecimento se dá pela relevância como manifestação
popular expressiva da cultura brasileira. Isto orgulha o mestre
Sivaldo Marcio de Almeida, de 40 anos. A capoeira está na sua vida desde os
anos 80 e há vinte ensina a arte. “José Alzimar Ferreira Lira, o Mestre Sossego,
chegou à cidade nos anos 80, vindo de São Paulo. Eu dançava hip hop e break
solo, conheci o esporte e ele me ajudou a desenvolver a dança”, recorda.
Vivendo em Londrina, Sivaldo morou em diversos locais de Jataizinho, como
na Benjamim Javarina, Carmela Dutra e Paul Pierce Harris (próximo a linha
férrea).
Voluntário no
projeto social do Assentamento Bela Vista, na antiga Cerâmica Bela Vista, seu trabalho
atinge 40 alunos e funciona as terças, quintas e sábados. De família humilde,
ele se identifica com as crianças do assentamento, uma vez que na infância não
tinha condições de pagar um curso. Além do esporte, Sivaldo instrui disciplina,
educação, religião, além de tirar os adolescentes das ruas e do caminho das
drogas. “Isto não é tudo, mas é um grande passo, pois sabem que há pessoas
preocupadas com elas. Incentivadas a buscar a religião, respeitar pai, mãe e
professores, na rua se comportarão como cidadãos de bem e terão discernimento do
que é bom ou ruim, criando novas concepções”, cita. Em contrapartida, se exige o
acompanhamento dos pais no projeto e boas notas, além dele ir às escolas
conversar com professores e observar o comportamento dos alunos. “A capoeira dá
retorno, pois há melhoria na qualidade do aprendizado. Havia alunos
problemáticos que atrapalhavam o grupo. Após a capoeira houve transformações na
mentalidade. Vejo futuro neles e os aconselho a estudar e ter estrutura
familiar, além de amor e carinho. Acolho a todos”, diz.
A capoeira tem por doutrina tradição,
respeito, musicalidade por instrumentos, artesanato, inclusão social,
disciplina e convívio. Com vasto conhecimento na arte, Sivaldo explica que há
várias modalidades de capoeira, como a Angola, Mãe, Regional, Marcial, de Combate
e Competição, mas tudo pára no mesmo lugar, onde o berimbau está à frente e o
capoeirista deve entender todos os estilos, além de respeitar o jogo.
Quanto a valores, a capoeira é barata e popular, onde o
custo está na compra do abadá (uniforme) e instrumentos, confeccionados pelos
capoeiristas. O que se exige é o esforço dos mestres em buscar conhecimento por
intermédio de workshops. Recentemente ele frequentou cursos no Rio de Janeiro,
Londrina e Curitiba. Este último no IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional) lhe rendeu o certificado que comprova sua atuação no esporte por mais
de vinte anos. Na região, apenas Sivaldo e os mestres Guanabara, do Jardim
Santo Amaro de Cambé e Índio, de Maringá, obtiveram o reconhecimento que os
credenciam a atuar nas escolas públicas.
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